Qual é o lugar mais adequado para rezar? A Sagrada Escritura e a vida da Igreja nos abrem horizonte muito amplo para responder a tal pergunta, sem excluir qualquer oportunidade ou espaço para o louvor de Deus, a ação de graças e a oração. Sabemos que “o Altíssimo não mora em casa feita por mãos humanas, conforme diz o profeta: ‘O céu é o meu trono, e a terra é o apoio dos meus pés. Que casa construireis para mim? – diz o Senhor’” (At 7,48-49). Diante das autoridades, Estevão pronuncia um discurso provocante, que o levou ao martírio. Jesus, como lemos nos evangelhos (Mt 21,10-17; Mc 11,15-19; Lc 19,45-48; Jo 2,13-25), entra no Templo de Jerusalém para purificá-lo de todas as deturpações que se acumularam. Na verdade, ele mesmo é o novo lugar de adoração a Deus, o novo Templo. Dentro do caminho quaresmal que estamos vivendo, é hora de acolher todas as lições que nos são oferecidas pelo Senhor e pela sua Igreja.

Passo a passo, experimentemos a alegria de tais presenças de Deus! Comecemos com a consciência de que o templo em que Deus habita somos nós! A sabedoria do apóstolo São Paulo vem em nossa ajuda: “Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus mora em vós” (Rm 8,9). O primeiro e privilegiado lugar em que Deus habita é o coração de cada pessoa. Respeitar este templo é tarefa para uma vida inteira, acolhendo as graças de Deus e empenhando-nos em permanecer em estado de graça. Como somos frágeis, temos à nossa disposição os instrumentos, especialmente a oração, a mortificação, a caridade e a vida sacramental para recomeçarmos continuamente e experimentarmos o crescimento da vida em Deus.

Consequência deve ser o respeito profundo pelas outras pessoas, reconhecendo-lhe a dignidade recebida do próprio Deus, não escandalizando a ninguém, amando e perdoando a todos, defendendo a vida desde o seio materno, olhando e contribuindo para a dignidade dos irmãos e irmãs excluídos e mais sofredores. Além disso, faz parte de nossa vida cristã empunhar a bandeira dos direitos humanos, sabendo que ninguém pode ser excluído ou abandonado. Olhar ao nosso redor servirá para verificar o que está ao nosso alcance, a fim de que todos sejam amados e respeitados, estar abertos para valorizar e dialogar com todos, reconhecendo que ninguém fica excluído do amor de Deus.

Na caminhada do povo de Deus no Antigo Testamento, passando pela Tenda da Reunião do deserto, pelos muitos altares edificados em memória da ação de Deus, até chegar ao Templo de Jerusalém, algumas vezes construído e transformado em ruínas, chegando às Sinagogas, lugar de escuta de Deus e de oração no dia de sábado, como encontramos o próprio Jesus que as frequentou. O Templo que Jesus purifica, com palavras e gestos vigorosos, de um lado era um sinal da grandeza de Deus e de seu povo, mas ao mesmo tempo profanado por um progressivo relaxamento e ritualismo das práticas religiosas.

Os primeiros cristãos, mesmo frequentando várias vezes o templo, começaram a se reunir de forma diferente. Já sabiam, pela palavra do Senhor, que onde dois ou mais estivessem reunidos em nome de Jesus, ele estaria presente! (Cf. Mt 18,20) Unidos, perseveravam na oração, na doutrina dos Apóstolos, na Comunhão dos bens e na Fração do Pão, o primeiro nome da Celebração Eucarística (Cf. At 2,42-47). E a Igreja começa a se reunir nas casas! Uma simpática experiência foi vivida com São Paulo, de acordo com a narrativa dos Atos dos Apóstolos: “No primeiro dia da semana, estávamos reunidos para a fração do pão. Paulo, que devia partir no dia seguinte, dirigia a palavra aos fiéis e prolongou o discurso até a meia-noite. Havia muitas lâmpadas na sala superior, onde estávamos reunidos. Um jovem, chamado Êutico, sentado na beira da janela, acabou adormecendo durante o prolongado discurso de Paulo. Vencido finalmente pelo sono, caiu do terceiro andar para baixo. Quando o levantaram, estava morto. Então Paulo desceu, inclinou-se sobre o jovem e, abraçando-o, disse: ‘Não vos preocupeis, ele está vivo’. Depois subiu novamente, partiu o pão, comeu e ficou falando até de madrugada, e assim despediu-se” (At 20,7-11).  “Alguns textos de São Paulo mostram a constituição de pequenas comunidades como igrejas domésticas, identificadas pelo Apóstolo simplesmente com o termo casa (Cf. por exemplo, Rm 16, 3-5; 1 Cor 16, 19-20; Fl 4, 22)” (Instrução sobre a Conversão Pastoral da Paróquia, 6). Casa, Palavra, Fração do Pão, a vitória da vida! São sinais da presença do Senhor!

No correr dos séculos, foram construídas, desde as pequenas capelas rurais de nosso interior, até as grande basílicas e catedrais pelo mundo afora. A mesma Missa, o mesmo Senhor presente, a mesma fé professada! No Ritual da Dedicação de uma Igreja, há um belíssimo prefácio, que reza assim: “Vós criastes todo o universo como um templo de vossa glória, onde vosso nome é exaltado. Mas não recusais reservar para vós lugares destinados à celebração dos mistérios divinos. Esta casa de oração, construída pelo trabalho humano, com alegria consagramos à vossa majestade”.

Pois bem, permitamos agora que Jesus venha purificar os muitos espaços de sua presença na Igreja. O templo que somos nós seja tocado com o verdadeiro chicote de amor de sua palavra neste tempo de Quaresma. Deixemos que todos os recantos de nossa alma sejam iluminados pela luz de Cristo. Não fique nenhum “quarto escuro e fechado” em nossa alma. Certamente faremos a magnífica experiência do Sacramento da Penitência, para o banho da misericórdia neste tempo.

É hora de purificar nossas Comunidades, Capelas, Paróquias, todos os espaços de culto, sendo radicais e corajosos, eliminando todo resquício de poeira, traça ou ferrugem, que são os ciúmes, as invejas, a divisão, a falta de respeito e amor mútuo, a competição, o pouco cuidado na administração.

Acolhamos o ensinamento purificador da Igreja, que pode alcançar de modo especial as nossas Paróquias e Comunidades: “A conversão pastoral é um dos temas fundamentais na nova etapa da evangelização que a Igreja é chamada hoje a promover, para que as comunidades cristãs se tornem cada vez mais centros propulsores do encontro com Cristo. Por isto, o Santo Padre sugeriu: ‘Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida… Espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus nos repete sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’” (Mc 6, 37). (Cf. A Conversão Pastoral da Comunidade Paroquial, 4).

Enfim, valorizemos as muitas construções de igrejas e capelas em nossa Arquidiocese, além do esforço dos sacerdotes e de todo o povo de Deus na adequação e cuidado com nossos espaços de culto!