São fiéis que vêm de todos os lugares para participar da maior festa religiosa do Mundo e agradecer bençãos alcançadas por intercessão de Nossa Senhora de Nazaré

Belém do Pará, segundo domingo de outubro, dia 13, 7h da manhã: saída da procissão do Círio de Nossa Senhora Nazaré. Empurrões, multidão, pés machucados, cansaço extremo. Não importa, qualquer sacrifício é pouco diante do muito que Ela merece. Com esse sentimento no coração, cerca de 2 milhões de pessoas percorreram um trajeto de aproximadamente 3,6 km, saindo da Catedral de Belém, no bairro da Cidade Velha, até a Praça Santuário de Nazaré, ponto de chegada do Círio.

No dia do Círio a cidade muda toda a sua dinâmica. As vias do corredor do Círio e suas transversais ficam fechadas ao trânsito até um dia antes para garantir maior organização da procissão. O trajeto iniciou na Praça Frei Caetano Brandão, seguiu pela Praça do Relógio, Avenida Portugal, Boulevard Castilhos França, Avenida Presidente Vargas e Avenida Nazaré até a Praça Santuário. Não há um só paraense, ainda que não seja católico, que fique indiferente a essa imensa manifestação de religiosidade.

PROMESSAS

Gestos de devoção e fé à padroeira dos paraenses marcaram toda a procissão. A comoção toma conta de todos, pois esse é o dia de seguir a Imagem Peregrina da Virgem de Nazaré pelas principais ruas de Belém, carregando objetos que são depositados em carros especialmente preparados para receber as peças dos promesseiros. São velas de todos os tamanhos, casas e barcos de madeira ou miriti, partes de corpos moldadas em cera, cruzes de madeira, tijolos, livros, cadernos, enfim, um sem número de objetos, frutos de graças alcançadas pela intercessão da Virgem de Nazaré. No meio da procissão também se vê crianças que passam abrigadas nos Carros dos Anjos em cumprimento a promessas feitas por familiares. Outra forma de pagar promessas é amparando os romeiros ou doando água, gesto que ameniza o calor de mais de 30 graus da capital paraense. São fiéis que vêm de todos os lugares para participar da maior festa religiosa do Mundo e agradecer as bênçãos de Nossa Senhora de Nazaré.

BELEZAS

Ao longo do percurso, empresas, instituições e famílias prestaram comoventes homenagens à Virgem de Nazaré. Espetáculos de fogos de artifício e balões marcaram a passagem da Imagem Peregrina pelas ruas da capital no domingo. A Avenida Presidente Vargas foi palco dos mais significativos tributos e festejos que a Imagem recebe. A emoção invadiu o coração dos romeiros quando padres cantores, especialmente convidados por instituições bancárias, entoam hinos e composições religiosas em louvor à Rainha da Amazônia. Durante a passagem, a Berlinda também  recebeu uma chuva de papel picado e pétalas de rosas, produzindo belíssimas imagens na avenida, prontamente capturadas pelas lentes de batalhões de fotógrafos e cinegrafistas de todo o Brasil e até do exterior. Além do espetáculo de fé, o Círio também se revela de uma incrível beleza artística.

CORDA DO CÍRIO

A Berlinda que abriga a Imagem Peregrina, decorada especialmente para o evento, foi puxada pelos devotos por meio de uma corda de aproximadamente 400 metros. Um dos mais importantes símbolos do Círio de Nazaré, a corda foi disputada por milhares de fiéis, com a intenção de pagar promessas e prestar homenagens à Santa.

A corda é um elemento que foi introduzido no Círio em 1855. Entretanto, somente 30 anos depois é que começou a fazer parte oficialmente da procissão, substituindo os animais que puxavam a Berlinda com a imagem de Nossa Senhora. Desde então, a corda passou a ser o elo entre a Virgem e os fiéis. Acompanhar o Círio puxando a corda é considerado um dos maiores atos de fé e de devoção a Nossa Senhora de Nazaré.

PRESTÍGIO

Devido sua grande importância cultural, em 2004, a festividade do Círio de Nazaré foi registrada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial. Dez anos depois, em 2014, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) concedeu, oficialmente, o certificado de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade ao Círio de Nazaré.

TRAJETÓRIA

A tarde de 8 de setembro de 1793 marcou a primeira edição desta manifestação religiosa. O Círio passou a ser realizado pela manhã somente a partir de 1854. Desde 1882, o bispo Dom Macedo Costa, de comum acordo com o Presidente da Província, Dr. Justino Ferreira Carneiro, resolveu que o ponto de partida seria a Catedral de Belém, o que acontece até a atualidade. O segundo domingo de outubro ficou definido como o dia de realização da procissão do Círio em 1901. E assim, em 2019, a história da imagem achada por Plácido José de Souza foi celebrada pela 227ª vez.

Texto: Emiliana Costa

Fotos: Aline Andrade, Karol Coelho e Yêda Sousa – ASCOM Basílica Santuário de Nazaré