Em Maria, a jovem, encontra-se a realização da fé, da esperança e da caridade!  A ela se aplica a palavra: “Sou a mãe do belo Amor e do Temor, do Conhecimento e da santa Esperança” (Eclo 24, 24). Aquela que “acreditou”, comprometendo toda a sua vida com o plano de Deus, contribuiu pessoalmente para a grande virada da história da humanidade. Olhar para a Virgem Maria significa contemplar o que ocorreu em sua vida, tomar pé do momento presente em que vivemos e descortinar, na esperança, o nosso futuro. Na graça do Batismo recebemos como presente de Deus a fé, a esperança e a caridade. Tendo olhado para Maria como modelo da fé, nós a contemplamos, em tempos de Círio, como Mãe e Senhora da Esperança.

A esperança que recebemos de Deus está plantada em nossa alma e supera todas as eventuais expectativas, ainda que as mais justas, presentes no coração humano. Reduzir nossa esperança ao rodapé da existência significa perder o rumo da eternidade, com o qual fomos criados e chamados à santidade, e com o qual olhamos sempre para frente e para o alto, malgrado todas as vicissitudes da existência e as eventuais crises pelas quais possamos passar, assim como a nossa sociedade.

De fato, a esperança é uma virtude teologal (Cf. Catecismo da Igreja Católica 1817-1821), pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos no socorro da graça do Espírito Santo. “O Espírito Santo, que Ele derramou abundantemente sobre nós, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador, para que, justificados pela sua graça, nos tornássemos, em esperança, herdeiros da vida eterna” (Tt 3, 6-7). Ela corresponde ao desejo de felicidade que Deus colocou no coração de todos; assume as esperanças que inspiram as atividades humanas, purifica-as e ordena-as para o Reino dos céus; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O ânimo que a esperança dá preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade. Pelos méritos de Jesus Cristo, Deus nos guarda na “esperança que não engana” (Rm 5, 5). Ela é “a âncora da alma, inabalável e segura” que penetra “onde entrou Jesus como nosso precursor” (Hb 6, 19-20). É uma arma que nos protege no combate da salvação: “Revistamo-nos com a couraça da fé e da caridade, com o capacete da esperança da salvação” (1 Ts 5, 8). Proporciona-nos alegria, no meio da provação: “alegres na esperança, pacientes na tribulação” (Rm 12, 12). Exprime-se e nutre-se na oração, particularmente na oração do Pai-Nosso, resumo de tudo o que a esperança nos faz desejar.

A jovem Virgem Maria é chamada na Igreja e Mãe da Santa Esperança. Do solo fecundo de sua fé, brotou a esperança como planta viçosa. O Cântico do Magnificat (Lc 1,46-55), proclamado por Maria, é límpida expressão de sua capacidade de olhar para a realidade, vendo as sementes do plano de Deus a se realizar. Para Maria, Ele olhou para a humildade de sua serva, “fez para mim coisas grandiosas […], sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. Mostrou a força de seu braço: dispersou os que tem planos orgulhosos no coração. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes, encheu de bens os famintos, e mandou embora os ricos de mãos vazias. Acolheu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia”. Em quem viceja a esperança, o futuro já chegou e  diante das realidades cotidianas consegue ver a obra de Deus acontecendo!

Caminhar na esperança, olhando para o exemplo da Virgem Maria! Em Nazaré, a vida é cheia de sentido, pois tudo o que faz corresponde ao plano de Deus, do qual não se desvia, e que é fonte de sua realização e felicidade. As provações que aparecem, como a perda do Menino no Templo, ela as enfrenta como quem aprende a confiar absolutamente em Deus. Viver na esperança é ainda guardar todas as coisas, meditando no coração! Em Caná, aquela que esperava tudo de Deus, soube fazer com que o futuro se fizesse presente, quando suas palavras fizeram acontecer a hora de Jesus, oferecendo à Igreja e à humanidade o caminho para que o hoje seja sempre melhor do que o ontem e o amanhã supere as lutas de hoje.

E provações não faltaram para manter acesa a esperança na vida da Virgem Mãe Maria, cujo coração foi traspassado pela espada da dor, até chegar a prova final do Calvário. Aliás, é bom saber que Deus não nos preserva dos embates da existência, mas nos concede as forças necessárias ao seu enfrentamento. Prometer uma vida sem lutas seria um terrível engano!

Duas orações podem iluminar nossa compreensão da figura de Maria, à luz da virtude da esperança: “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida e doçura esperança nossa, salve! A vós bradamos degredados filho de Eva. A vós suspiramos gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia pois advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa ó doce e sempre Virgem Maria”. Rezar a “Salve Rainha” faz enxergar o mundo e o futuro com os olhos purificados pela fé. Chamar Maria de “esperança” significa entender que uma criatura humana, simples como todos nós, pode ser sinal luminoso. Mostra que o vale de lágrimas pode ser superado quando nos é mostrado o bendito fruto do ventre da Virgem Maria, Jesus!

Justamente nos últimos dias o Papa Francisco propôs ao mundo inteiro rezar a oração a mais antiga das preces dirigidas a Nossa Senhora na história da Igreja: “À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita”.

E ainda o Papa surpreendeu o mundo ao propor uma oração composta por Leão XIII, para acompanhar-nos durante o mês de outubro, para enfrentar a força do maligno: “São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate; sede nosso auxílio contra as maldades e ciladas do demônio. Suplicantes, vos pedimos que Deus o domine, e vós, Príncipe da Milícia Celeste, precipitai no inferno a Satanás e a todos os outros espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém. É tempo de esperança, aquela que vem do alto!