Após a descida do Espírito Santo, a primeira pregação de Pedro suscitou reações impressionantes: todos “ficaram com o coração compungido e perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: ‘Irmãos, que devemos fazer?’  Pedro respondeu: ‘Convertei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos vossos pecados. E recebereis o dom do Espírito Santo’” (At 2, 37-38). O mesmo autor dos Atos, São Lucas, relatou pergunta semelhante diante da pregação do precursor, aquele que veio preparar o caminho do Messias: “As multidões lhe perguntavam: ‘Que devemos fazer?’” (Lc 3, 10). As respostas dadas por João Batista permanecem atuais e nos ajudam a abrir espaços em nossos corações para que o advento seja novo e o Senhor Jesus venha a ser acolhido, para a vida e a salvação do mundo. Com sua pregação, João exortava e evangelizava, anunciando que a salvação é oferecida a todos aqueles que vivem e agem com justiça e caridade.

Para acolher o Salvador que continua vindo, faz-se necessário estabelecer um clima de comunhão e partilha. Trata-se de uma proposta da qual não nos é lícito fugir. Qualquer de nós cristãos precisa encontrar o seu modo de dividir o pouco ou o muito que venha a possuir com o próximo. Podemos pensar no escândalo da repartição dos bens em nosso planeta e bem perto de nós, em nosso país, onde, de um lado, o acúmulo de riquezas contrasta com a miséria de imensa fatia da população. Mas podemos chegar bem perto, quando nossas mãos não se abrem para socorrer os que mais precisam. No entanto, é bom olhar ao redor e verificar a imensa sensibilidade para a caridade e a justiça, testemunhada a partir de nossas comunidades cristãs e também por pessoas que anonimamente praticam a caridade, sem que a mão esquerda saiba o que faz a direita. Neste final de ano, são muitas as iniciativas que educam para a caridade. Entre nós, na Arquidiocese de Belém, a Campanha “Belém, a casa do Pão”, tem surtido efeitos, educando-nos para um modo novo de entender a vida e educando para a partilha, e ela tem contribuído para atrair à Igreja e à Fé muitas pessoas afastadas.

A segunda e atualíssima resposta de João Batista toca no assunto permanentemente em pauta, a corrupção. Cobradores de impostos, o que significa gente que deveria trabalhar pelo bem comum, eram instados a não cobrar além do estabelecido. O ano civil que estamos terminando nos ofereceu o desagradável espetáculo de pessoas nas quais eleitores confiaram e no correr dos anos se revelaram interessados apenas no próprio proveito e no próprio bolso! A justiça nas contas e nas prestações de contas, o uso adequado do dinheiro público, o cumprimento das promessas feitas, tudo isso pode aplainar o caminho para que chegue a nós a verdade do Reino de Deus.

Aos militares, e estes em nossos tempos ganham nova visibilidade, a pregação de João Batista pede para não usar a violência, recomendação que pode se ampliar a grande parcela da população, já que é tamanha a criminalidade que a tentação de fazer justiça com as próprias mãos se atualiza de novo. Sabemos que o medo não é bom conselheiro, pois multiplica reações cada vez mais violentas, aumentando a espiral que já característica de nossos dias.

Podemos ampliar o horizonte das perguntas e respostas, pedindo ajuda a João Batista. A necessidade da conversão tem passado pela nossa cabeça e pelo coração, provocando sincera revisão de vida, ou vivemos um dia depois do outro sem nos movermos para o alto e para frente, como pode e deve ser cada cristão? Se a misericórdia de Deus se manifesta em favor dos pobres e humildes de coração, cada um de nós se identifica com eles? E neste tempo de Advento, no qual vem à tona o clamor “Vem, Senhor Jesus”, pensamos e desejamos a vinda do Cristo? Mais ainda: no tempo de Jesus algumas classes de pessoas eram consideradas indignas da salvação de Deus. Porventura, há alguma pessoa ou grupo de pessoas excluídas de nosso amor, atenção e desejo de alcançar para a vida da Igreja?

Cada pessoa desejosa da plena realização de sua vida humana e cristã aproveite este final de semana para verificar sua vida familiar, seu exercício profissional e sua participação na comunidade eclesial e na sociedade e faça a corajosa revisão de vida. Pode doer, mas os frutos serão maravilhosos e duradouros! João Batista, com a coragem da verdade, anuncia que o Messias que estava para chegar viria para batizar no Espírito Santo e no fogo. O Senhor que chega também entre nós vem com a força da verdade, e é esta verdade que traz a alegria e a realização para as pessoas. Nossa fé não é portadora de uma mensagem de acomodação, mas de sadia inquietação. Alcançará a perfeita alegria a pessoa que se dispuser a sair de si, rever seus critérios de vida, ousar caminhos novos de justiça e de santidade.

“Vem, Senhor Jesus!”

Rezemos: Ó Deus de bondade, neste Domingo da alegria, vedes o vosso povo esperando o natal do Senhor. Daí que cheguemos às alegrias da salvação e as celebremos sempre com intenso júbilo na solene liturgia. Amém!