Podemos preparar o Natal a partir de várias figuras da Escritura, como Isabel e Zacarias, o Arcanjo Gabriel, os Anjos da Noite Santa, a Estrela Guia ou as outras estrelas da noite, os Pastores, os Magos chegados de longe, os Animais que se achegaram ao Presépio, como o Boi e o Burro e se tornaram personagens de um Auto de Natal, assim como Maria e José. Com o Evangelho do Quarto Domingo do Advento, desejamos entrar na cena da Natividade conduzidos por São José.

“Ao lado de Maria, em atitude de quem protege o Menino e sua mãe, está São José. Geralmente, é representado com o bordão na mão e, por vezes, também segurando um lampião. São José desempenha um papel muito importante na vida de Jesus e Maria. É o guardião que nunca se cansa de proteger a sua família. Quando Deus o avisar da ameaça de Herodes, não hesitará a pôr-se em viagem emigrando para o Egito (Cf. Mt 2, 13-15). E depois, passado o perigo, reconduzirá a família para Nazaré, onde será o primeiro educador de Jesus, na sua infância e adolescência. José trazia no coração o grande mistério que envolvia Maria, sua esposa, e Jesus; homem justo que era, sempre se entregou à vontade de Deus e pô-la em prática” (Papa Francisco, Carta Apostólica Admirabile signum, número 7). Quem foi São José? Os Evangelhos no-lo mostram como um homem praticamente sem palavras! Tamanha fama e nenhuma palavra reportada, mesmo se deve ter pronunciado tantas! Aproximemo-nos dele!

José era da descendência de Davi, e sua entrada na história da Salvação deu reconhecimento legal, segundo a lei antiga, ao Filho de Maria. Ser descendente de Davi significava muito, porque ligava aquele homem à genealogia descrita nos Evangelhos (Cf. Mt 1, 1-17), como prova da fidelidade de Deus às suas promessas.

José era um homem justo (Cf. Mt 1, 19). Justo na Bíblia não é apenas quem dá o seu a seu dono, no sentido da justiça distributiva. Justo é o oposto do ímpio, é aquela pessoa que vive segundo a lei de Deus. “No decorrer da sua vida, que foi uma peregrinação na fé, José, como Maria, permaneceu fiel até ao fim ao chamamento de Deus. A vida de Maria foi o cumprimento até às últimas consequências daquele primeiro fiat – ‘faça-se’ – pronunciado no momento da Anunciação, ao passo que José não proferiu palavra alguma em sua ‘anunciação’: ‘fez como o anjo do Senhor lhe ordenara’ (Mt 1, 24). E este primeiro ‘fez’ tornou-se o princípio da ‘caminhada de José’. Ao longo desta caminhada, os Evangelhos não registram palavra alguma que ele tenha dito. Mas esse silêncio de José tem uma especial eloquência: graças a tal atitude, pode captar-se perfeitamente a verdade contida no juízo que dele nos dá o Evangelho: o ‘justo’ (Mt 1, 19). É necessário saber ler bem esta verdade, porque nela está contido um dos mais importantes testemunhos acerca do homem e da sua vocação. No decurso das gerações a Igreja lê, de maneira cada vez mais atenta e mais consciente este testemunho, como que tirando do tesouro desta insigne figura ‘coisas novas e coisas velhas’ (Mt 13, 52).” (São João Paulo II, Redemptoris Custos, 17). E podemos chamá-lo, como uma música de um tempo atrás, de “Bom José”. Não é pouca coisa ser um homem bom, que busca somente o bem! Aliás, num tempo em que faz propaganda de tantos contravalores, faz bem apresentar a figura de um homem bom e reto!

José foi um homem dos sonhos, já que a vontade de Deus lhe foi manifestada várias vezes dessa forma. Dá para ligá-lo a outro José, o do Egito: “Aí vem o sonhador!” (Gn 37, 19), disseram seus irmãos. Depois, seu dom de interpretação dos sonhos lhe valeu posições no Egito e os desdobramentos que se seguiram, no plano de Deus para salvar o seu povo. O nosso bom São José teve um anjo a lhe aparecer em sonhos (Mt 18, 20), conduzindo-o a aceitar Maria, que ficara grávida pela ação do Espírito Santo. Em sonho (Mt 2, 13-23) soube que deveria ir para o Egito com Maria e o Menino Jesus e depois voltar para a pátria, indo viver em Nazaré. Tais expressões apontam para a disposição de José a buscar sempre a vontade de Deus, renunciando a planos próprios. Dele aprendemos a discernir, no meio de tantas palavras e opiniões, aquilo que vem de Deus. Este nosso sonho nos conduza a buscar sempre a fonte que é a Palavra do Senhor, o discernimento que nos vem de bons conselheiros e as inspirações vindas interiormente do Espírito Santo. Podemos chamar de sonhos, mas vão muito além, pois expressam que Deus tem a ver conosco e com nosso dia a dia.

José foi um homem do trabalho, tanto que é considerado e celebrado como padroeiro dos trabalhadores. São Paulo VI, visitando Nazaré, na Terra Santa, quis colher ali algumas lições. Uma delas foi a do trabalho, na qual São José foi mestre, inclusive para Jesus: “Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria?” (Mc 6, 3): “Ó Nazaré, ó casa do ‘filho do carpinteiro’! É aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei, severa e redentora, do trabalho humano; aqui, restabelecer a consciência da nobreza do trabalho; aqui, lembrar que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que sua liberdade e nobreza resultam, mais que de seu valor econômico, dos valores que constituem o seu fim. Finalmente, como gostaríamos de saudar aqui todos os trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu divino irmão, o profeta de todas as causas justas, o Cristo nosso Senhor”.

O Papa Francisco tem uma devoção com São José “dormindo”. Por toda parte encontramos imagens de São José, que sonha os pedidos colocados junto à representação de seu sono! O sonho de hoje é entrar com São José no Mistério do Natal, desejando que as lições do Presépio sejam acolhidas e vividas em nosso tempo. Sonhamos com um mundo mais justo e fraterno, com a superação da violência, da corrupção e da impureza. Sonhamos com o respeito à verdade e a conversão à verdade, que tem um nome, Jesus Cristo. Sonhamos com a valorização do trabalho e das pessoas que trabalham, sonhamos, sim, com o emprego pleno! Sonhamos com a justiça realizada a partir da fidelidade a Deus. Sonhamos com a glória a Deus no mais alto dos Céus e paz na terra aos homens por ele amados! Santo Natal!