Reflexão do Evangelho – Lucas 9,51-62

Por Padre Ferdinando Maria Capra, CRSP

Com Lc 9,51, inicia o ensinamento de Jesus, o Caminho. O Adão verdadeiro está realizando-se diante do Pai e dos olhos dos seus irmãos. Nele, afinal, o Criador vê desabrochar a criatura. Adão, criado na condição de homem e mulher, foi ensinado a reinar mediante a observância dos mandamentos, representados pela árvore do bem e do mal, de cujos frutos deveria se abster, para poder se alimentar dos frutos da árvore da vida “que está no meio do paraíso” (Ap 2,7). Esse Jesus é aquele de quem Lc 2,51 nos diz que, “voltou com os seus pais para Nazaré e era-lhes submisso, enquanto crescia em idade, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens”.

Amadurecida a sua vida espiritual no silêncio de Nazaré, tinha-se associado aos seus irmãos pelo batismo de penitência de João, para iniciar a sua vida pública consagrada por um jejum de 40 dias e 40 noites. Faminto e sedento de justiça, empreendeu a sua vida pública, citando Is 61,1-2, na linha do profeta Elias e Eliseu.

Após o reconhecimento da sua messianidade, deu a explicação da Paixão do Filho do Homem: humildade e serviço.

Agora está empreendendo o caminho da sua realização, pela santificação até a glorificação, que a Transfiguração, antecipadamente, ilustra.

A sua compenetração nos faz compreender quão intensamente os discípulos devem  viver a sua preparação para o ministério. O discípulo é aquele que segue, confiante, o Mestre. Jesus ensina que ele está desprendido de qualquer benefício. O que significa que a única coisa que lhe interessa é o Reino de Deus.

Jesus ensina até o desprendimento dos sentimentos terrenos para melhor captar os desejos do Pai celeste e trabalhar com entusiasmo para o Reino.

Revela, enfim, que há um rígido critério de seleção por parte de Deus: não está apto para o Reino de Deus quem olha para trás. Estamos diante de um Deus que veio e que ensina ao homem, tendo ele mesmo se feito homem para instruí-lo segundo aquilo que é próprio do homem.

Notamos que os gêneros literários se acumulam. Com a linguagem simbólica, temos a forma proverbial, segundo a qual Jesus se pronuncia, similar àquela das frases: “Se teu olho te escandaliza, arranca-o”, etc. (Mt 18).

Jesus se apresenta como um Mestre e Guia seguro. Está profundamente compenetrado com o chamado do Pai para a imolação. Movido pelos seus sentimentos, nos dita o caminho da verdadeira realização. Notamos a sua compenetração no momento do Batismo no Rio Jordão, quando das tentações no deserto, na sinagoga de Cafarnaum, momento em que liga a sua missão à Profecia (Lc 4,16-21).

Descobrimos a causa da sua perfeição moral, quando revela a sua divindade: quando perdoa os pecados; quando proclama ser o Senhor do sábado, o Esposo; quando domina a tempestade; quando ressuscita os mortos. A sua condição divina dita os ensinamentos morais, comprovados pela sua humanidade que os implementa.

Padre Ferdinando Maria Capra pertence à Ordem dos Clérigos de São Paulo (Barnabitas) e serve no Rio de Janeiro (RJ).