Pe. José M. Ramos Mercês,

Sacerdote Barnabita

 

Inscrição entalhada no teto do próprio templo mariano informa: TITULUS BASILICAE 19 JULII MCMXXIII (Título basilical, em 19 de julho de 1923). Nesta data, a igreja matriz paroquial de Nossa Senhora de Nazaré do Desterro, em Belém do Pará, recebeu do Papa Pio XI o grau que a enobreceria religiosamente na mais ampla dimensão da Igreja Católica: Basílica Menor.

Tudo começou em fins de 1700, quando Plácido encontrou a venerada imagem da Virgem Nazarena, destinada a tornar-se o valioso símbolo da devoção e da identidade cultural de um povo! Este maravilhoso achado é que justificaria, na Amazônia, a monumental construção e o seu respectivo título.

O INÍCIO

Dom João Evangelista Pereira da Silva, 5º bispo do Pará, que aqui chegou em 1772, teve a felicidade de ouvir do próprio Plácido, já bem idoso, os acontecimentos sobre a manifestação divina ocorrida em Belém. Foi quando Plácido expressou-lhe a tristeza de não ter podido ofertar à Virgem “um oratório decente”. Ocasião em que, muito impressionado com sua piedade, Dom João afirmou: “Não podia haver melhor abrigo para a Rainha dos Céus, que o coração daquele humilde!”.

Mas, se a veneração popularizou-se e várias igrejas se sucediam, a vontade de Plácido alcançou realização com a chegada dos Padres Barnabitas. Vindos a Belém no início do século XX, notaram o enorme alcance da devoção local. E empreenderam logo, a partir de 1909, a construção daquela que viria a ser das mais belas basílicas das Américas, a que o seu condutor, Pe. Affonso M. Di Giorgio, batizou “A maravilha do Pará”.

 

O TÍTULO BASILICAL

Em 1923, no Brasil, só havia três basílicas: de Aparecida e São Bento, em São Paulo; e a da Sé, na Bahia. Mas a Igreja de Nazaré, em Belém do Pará, conquanto inacabada, deslumbrava por sua beleza, entusiasmando projetos de qualificá-la com privilégios especiais.

Ilustrações em mosaico tinham sido encomendadas em Veneza. Estavam sendo revestidas de mármore as suas capelas e assentadas as estátuas de santos.

Mas, o que empolgavam mesmo eram as enormes colunas de granito róseo e, mais que tudo, o altar-mor, montado por mestre Antônio Vita. Os fiéis, hierarquia e autoridades se extasiavam ante a obra de arte, desenhada pelo engenheiro Ottavio Grolla, do Instituto de Belas Artes de Milão, e executada em bom mármore italiano de Carrara, pela Casa Italo Bovecchi, da Toscana. Ali, a dureza do mármore tornava-se maleável como a argila, formando aquele majestoso conjunto de anjos devotos, obra inconfundível de Antonio Bozzano, para guardar a venerada Imagem em sua Glória.

A iniciativa do Título Basilical partira dos próprios Padres Barnabitas, de Belém e de Roma. Desse modo, em 22 de abril, o arcebispo de Belém, Dom Santino Coutinho, formalizava a petição do raro título ao Papa.

GRAÇA ALCANÇADA

O Decreto de Pio XI chegou a tempo de abrilhantar a Semana da Pátria e comemorar os 25 anos de sacerdócio do Pe. Afonso M. Di Giorgio. A 28 de outubro, último dia da festividade, o Vigário geral da Arquidiocese, Cônego Ricardo Filipe da Rocha (Dom Santino fora para Maceió), rodeado de clero e povo, leu, solenemente, o Decreto Pontifício, que em bom latim, dizia:

“Na cidade de Belém do Pará – Brasil há uma igreja paroquial erguida em honra da Bem-Aventurada Virgem de Nazaré. A qual, pela imponência da construção, esplendor das obras de arte, brilhantismo do culto, frequência e devoção de fiéis, pode muito bem, com justiça e direito, ser enumerada entre os principais santuários consagrados, em terra brasileira, à Santa Mãe de Deus.

O atual pároco dessa igreja, Nosso dileto filho Afonso M. Di Giorgio, e os Superiores maiores da Ordem dos Barnabitas, rogam-Nos para que Nos dignemos elevar tal igreja à categoria de Basílica, sendo tal súplica endossada pelo valioso sufrágio de Nosso venerável irmão, Dom Santino Maria da Silva Coutinho.

Nós, a quem tanto interessa que se amplie sempre mais a piedade dos fiéis para com a Santíssima Virgem, medianeira junto a Deus, de todas as graças, anuindo de bom grado a tão piedosos almejos, a essa igreja paroquial consagrada a Deus em honra de Maria, intitulada de Nazaré, para a maior glória de Deus, como também para o maior incremento da piedade, de Nossa apostólica Autoridade, concedemos-lhe, pelo presente e para sempre, o título e a dignidade de Basílica!

Dado em Roma, junto a São Pedro, sob o anel do Pescador, aos 19 de julho de 1923, no segundo ano de Nosso Pontificado.”

Para perpetuar o acontecimento, incrustou-se o brasão d’armas de Pio XI na faixa dourada sob a abside (o painel da Sagrada Família). O emblema basilical ou “gonfalone” (em forma de sombrinha) foi também reproduzido nas paredes, no teto e nas portas do nosso templo.

Em 2006, a casa da Rainha da Amazônia recebeu mais uma distinção. Ao encerrar o Jubileu Centenário de elevação do Bispado do Pará à dignidade de Arquidiocese, a Igreja de Belém acrescentou à Basílica de Nossa Senhora de Nazaré o título e a condição de Santuário Mariano Arquidiocesano, assim declarada por Dom Orani João Tempesta, 9º Arcebispo de Belém, a 31 de maio.