Texto retirado na integra do livro “Ao encontro do Senhor”, escrito por Pe. Giancarlo Colombo – Bta. (1978)

Padre Emílio Richert

Nascimento: 02 de fevereiro de 1886 – Mulhouse (Haute Alsace)

Morte: 30 de novembro de 1927 – Rio de Janeiro

Profissão simples: 21 de novembro de 1891 – Mouscron

Ordenação: 17 de fevereiro de 1894 – Paris

 

Figura das mais marcantes na fundação da Província Brasileira, Pe. Richert, filho de um lar profundamente católico, nasceu em Mulhouse em 2 de fevereiro de 1886. Aos 20 anos, após haver trabalhado numa casa de comércio, entrava na Escola Apostólica de Gien e, mais tarde, no Noviciado da Província Franco-Belga, que ele próprio inaugurava juntamente com o Pe. Berthet. Fez ai a sua profissão simples aos 21 de novembro de 1891, seguindo logo após para Roma onde cursaria Teologia. Dois anos depois já sub-diácono, voltava para o Escolasticado de Paris, onde aos 8 de dezembro de 1893, fez a sua profissão solene e, aos 17 de fevereiro de 1894, era ordenado sacerdote na igreja das Missões estrangeiras. Enviado a Bourges, tentou de todas as formas salvar o Colégio daquela cidade confiado aos nossos Padres. Muitas razões inutilizaram as suas tentativas e, no mês de agosto do mesmo ano, fechado definitivamente aquele Instituto, o Padre passou a residir no Colégio de Gien, ensinando inglês e alemão, até o ano de 1903, quando as tristemente famosas leis de Combes obrigaram-no a transferir-se para Mouscron. Meses depois e precisamente em 2 de agosto do mesmo ano, acompanhado pelos padres Lecourieux, Vacebelaere e Ir. Vito de Cecca partia para a fundação do Brasil, aproando aos dias 21 do mesmo mês na cidade de Belém, capital do Grão Pará.

D. Francisco do Rego Maia, que então regia a Arquidiocese de Belém, grande admirador de nossos padres, confiou-lhe a direção do seminário, num contrato que se estenderia por mais 25 anos, prometendo-lhe, ao mesmo tempo, a paróquia de N. Sra. De Nazaré. Infelizmente, o sucessor de D. Francisco não concor5dou com tal contrato, obrigando os nossos padres a deixarem o Seminário, que no tempo do Pe. Richert navegava a velas pandas, mas que logo depois de sua saída fechava definitivamente suas portas. Em 1904, enquanto regia o Seminário, Pe. Richert recebeu também as paróquias de Bragança, Vizeu e Ourém, onde atualmente florescem nas nossas Missões; mas em 1905 teve de deixar, frente à necessidade de concentrar os poucos religiosos de que dispunha em outras obras.

Em novembro de 1908, Pe. Richert foi empossado vigário na Paróquia N. Sra. De Nazaré e nomeado Superior da sua comunidade. Livre da direção do Seminário, o Padre dedicou-se inteiramente ao processo espiritual da paróquia, dando novo impulso às associações já existentes, sacrificando-se no confessionário, transformando aos poucos a matriz num centro de espiritualidade. Foi nesse período que teve a inspiração de construir uma nova igreja, para substituir a modesta igrejinha existente, incapaz de acolher as multidões que para lá convergiam por ocasião dos festejos dedicados a N. Sra. De Nazaré. Valendo-se do admirável Pe. Zoia, que da Itália lhe enviara os projetos e que se colocava à sua disposição para a aquisição do material a ser importado da Itália, Pe. Richert, sábio administrador e intrépido empreendedor, deu inicio ao que seria uma das mais belas Basílicas do Brasil. Coube a S. Excia. D. Santino Coutinho, novo Arcebispo do Pará, lançar a primeira pedra, aos 24 de outubro do ano de graça de 1909.

De 1907 a 1922, Pe. Richert tornou-se o elemento mais solicitado, quando estavam em jogo os interesses da Congregação. Assim é que tomou parte dos Capítulos Gerais de 1907, 1910, 1916 e 1922; foi eleito Visitador da Província Franco-Belga com poderes especiais para o Brasil, e em 1910 recebeu também o cargo de Pro-Provincial da nossa Província, cargo em que foi confirmado nos três Capítulos seguintes. Em 1917, transferiu-se de Belém para o Rio de Janeiro, onde em 1919, acumulou os cargos de Reitor do Colégio Zaccaria, e de Pro-Provincial. Sua grande preocupação foi a ereção da Escola Apostólica que, depois de várias tentativas no Rio Grande do Sul, começou a funcionar no próprio Rio de Janeiro numa casa alugada em frente ao Colégio, para depois ser definitivamente instalada em Jacarepaguá.

Mas não foi tão somente a nossa Congregação que se socorreu de sua atividade nesse período áureo de sua administração, senão também as nossas Irmãs Angélicas, pelas quais preparou a sua primeira fundação no Rio de Janeiro e às quais, imitando o Fundador, dedicou-se com todo carinho, fazendo assim, jus ao titulo de pai, com que ainda hoje é venerado.

Em fevereiro de 1922 Pe. Richert partia novamente para a Europa onde fora eleito Visitador extraordinário da Província, mas de onde só trouxe sofrimentos físicos e morais. Suas pernas foram, porém, compensadas pela consolação de retirar ai Brasil em 2 de fevereiro de 1923.

Agregado à comunidade do Colégio Zaccaria, exerceu nos últimos anos de sua vida os cargos de professor, procurador, mas, acima de tudo, dedicou-se com generosidade inaudita ao ministério das confissões, tanto em nossa capela como nas várias comunidades religiosas do Rio. Não esquecia, porém, a menina de seus olhos: Escola Apostólica de Jacarepaguá, indo todas as semanas até lá para atender às confissões dos apostólicos e, procurando benfeitores que arcassem, ao lado da Comunidade, os recursos necessários para a manutenção do Seminário.

No mês de setembro de 1926, começou a enfermidade que o levaria à sepultura um ano depois. Um câncer na garganta custou-lhe sacrifícios e sofrimentos sem fim que apenas terminaram com a sua morte no dia 30 de novembro de 1927.

Descansa agora na Capela mortuária dos Padres Barnabitas por ele próprio erguida no Cemitério S. João Batista.

Pe. Richert foi homem de firmes decisões e de um temperamento mais afeito à escola de S. Jeronimo que à de S. Francisco de Salles. Mas que de virtudes heroicas nesse homem! Sacerdote cheio de fé dedicou-se inteiramente ai vem das almas: confessor, passava horas a fio no Confessionário acudindo aos fiéis e às Religiosas; Barnabita exemplar, amava sua Congregação, por ela sacrificando-se, em todos os cargos para os quais era chamado e dando a todos o melhor de suas forças. A ele a Congregação muito deve da sua existência no Brasil e muito mais pelos raros exemplos de piedade e de santidade deixados aos seus confrades.