“‘O Reino dos Céus é semelhante a um proprietário, que saiu muito cedo, a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a vinha’ (Mt 20, 1-2). A parábola do Evangelho abre aos nossos olhos a imensa vinha do Senhor e a multidão de pessoas, homens e mulheres, que ele chama e envia para trabalhar nela. A vinha é o mundo inteiro (Cf. Mt 13, 8), que deve ser transformado segundo o plano de Deus em ordem ao advento definitivo do Reino de Deus” (Christifideles laici, 1). O dono da vinha buscou trabalhadores por bem cinco vezes durante a jornada, encontrando grupos e situações diferentes. Também hoje o chamado se repete e pede uma resposta ao Senhor!

Queremos ir ao encontro de tantas pessoas que, ainda antes da aurora, experimentaram o chamado de Deus à Igreja. Foram muitos, e somos muitos, os batizados quando crianças, formados adequadamente em famílias católicas, tendo recebido toda a educação cristã necessária à presença no mundo e o testemunho de Cristo Ressuscitado. Neste grupo, vemos as pessoas que participam das pastorais e dos movimentos de Igreja, engajadas em suas Paróquias, gente de caminhada, com convicções fortes e firmes, aqui reconhecidas e homenageadas, pelo seu pioneirismo e fidelidade. A Igreja é o seu lugar, esta é a sua casa, este é o espaço para o trabalho em prol do Reino de Deus! Quanta gente de boa cepa, com frutos na família, nas Paróquias, no trabalho e no mundo! Sejam reconhecidos de forma especial os leigos e leigas que são colunas consistentes de nossas Comunidades!

Às nove horas (Cf. Mt 20,3), o dono da vinha saiu de novo pela praça e viu pessoas que estavam desocupadas! Quantas são as pessoas que descobriram a Igreja em sua juventude, na força de todas as energias a serem oferecidas a Cristo, pois dele as receberam. Identifico aqui o idealismo de quem encontrou sua vocação e começou a dar tudo de si mesmo. Admiro profundamente o ardor do encontro pessoal com Cristo, que transformou tantas vidas e continua realizando sua obra. Nelas vejo também muitos que estão cansados pelo meio da jornada, até esgotados por terem feito muito para enfrentar a avalanche da maldade existente por toda parte, chamados hoje a recobrarem suas forças (Cf. Ap 2,4-5). Nove horas, tempo de oferecer o melhor que se tem!

A turma do meio-dia, com o sol a pino, pessoas que ainda não descobriram o seu lugar. É hora de “lombeira”, alguma preguiça e indisposição. Pessoas que podem ter caído no indiferentismo e no relativismo, quem sabe, insensíveis ao chamado do Senhor. Quantos são aqueles que precisam descobrir a força do chamado, entendendo que o Reino de Deus comporta todos os que andam pelas praças. Há muita ociosidade merecendo apelos fortes, desafios a serem enfrentados. Também a eles se dirige o mesmo chamado.

Às três da tarde, perto do ocaso do sol da vida, é possível encontrar trabalho? Ainda sobra alguma coisa para fazer? Para muitos, até é hora de pensar na morte, mas o dia ainda vai longe! É tempo de começar. Penso em muitos irmãos e irmãs que podem dizer, com Santo Agostinho, “tarde te amei”, mas que começaram a amar a Deus, recolhendo forças escondidas em seu interior. Quero ir ao encontro das pessoas que estão cansadas de viver, e precisam encontrar novos estímulos, descobrindo na Igreja a sua casa e seu consolo, assim como a certeza de que têm muito para dar!

Os operários da última hora chegaram bem no final! Trabalharam pouco, mas receberam a mesma moeda! Não foram poucos os casos em que encontrei, em últimos e decisivos instantes de vida, a força da conversão em pessoas que jaziam em leitos de hospital. Quantos sorrisos pude contemplar ao dar a absolvição sacramental a pessoas que viveram afastadas de Deus e da Igreja por mais de meio século! Que beleza a reconciliação com Deus e com o próximo, vivida depois de anos de afastamento da Igreja e da família. Quantos sonhos recuperados, quanta maldade destruída através do abraço do Pai misericordioso, como no episódio do Filho pródigo.

A jornada de trabalho vai se concluir! O dia contratado por uma moeda de prata é símbolo de toda uma vida, e cada um de nós terá encontrado a sua hora. O Céu será lugar de maravilhosos encontros e gratas surpresas, quando veremos pessoas cuja última hora não conhecemos na terra, mas Deus sabe de tudo. Ressoe entre nós a palavra profética: “Quanto a ti, filho do homem, dize a teus compatriotas: a justiça do justo não poderá salvá-lo no dia em que ele pecar, nem a maldade do ímpio o fará tropeçar no dia em que dela se arrepender. O justo não poderá viver por sua justiça no dia em que pecar. Se eu disser ao justo que com certeza viverá, mas ele, seguro de sua justiça, cometer injustiças, nenhuma de suas obras justas será lembrada. Morrerá por causa da injustiça que praticou. E se eu disser ao ímpio que ele com certeza morrerá, mas ele se arrepende do pecado e pratica o direito e a justiça, devolve o penhor, restitui o furto, vive conforme as leis que dão vida, sem cometer injustiças, com certeza viverá, não morrerá. Nenhum dos pecados que cometeu lhe será lembrado. Praticou o direito e a justiça, com certeza viverá. Teus compatriotas dizem: ‘A conduta do Senhor não é correta’, mas a deles é que é torta. Quando o justo se desviar de sua justiça e cometer injustiças, morrerá por causa delas. Mas quando um ímpio se arrepende da maldade e pratica o direito e a justiça, por causa disso viverá. E ainda dizeis: ‘A conduta do Senhor não é correta!’ De acordo com a conduta de cada um eu vos julgarei, casa de Israel”. (Ez 33,12-20)

Como a cada dia basta o seu cuidado (Cf. Mt 6,34), a hora de Deus é esta, o momento presente a ser aproveitado, para dar a resposta, comprometer-se com aquele que nos quer engajados na edificação de seu Reino, superando todos os julgamentos e alegrando-nos com a misericórdia de Deus espalhada por toda parte, alcançando tantas pessoas que a avaliação humana superficial pode ter excluído. Afinal, ele tem o direito de fazer o que quer com aquilo que lhe pertence, pelo que não podemos ter inveja porque ele é bom! Para o Senhor, últimos serão primeiros, e primeiros serão os últimos” (Cf. Mt 20,15-16). E na Casa do Pai há muitas moradas! (Cf Jo 14,1-4). A paga é uma eternidade feliz!