Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Ao professar a fé cristã, os homens e mulheres de nosso tempo nele descobrem a fonte de vida e de graça e ao mesmo tempo a referência para o comportamento nas diversas circunstâncias. Ele passou fazendo o bem, tem palavras “de vida eterna”, expressa os sentimentos humanos de forma inigualável, acolhe crianças, enfermos, pecadores de todos os tipos, visita, dialoga, cura, ama. Ninguém passa em vão ao seu lado (Cf. Retiro Popular 2020).
Durante a vida pública, Jesus esteve algumas vezes em Jerusalém, sendo a última delas para sua entrega definitiva, quando deu livremente sua vida para morrer e ressuscitar. O Evangelho de São João descreve magistralmente o clima da última e definitiva viagem. Jesus vai a Jerusalém e participa de festas rituais dos judeus (Jo 7-12) e permanece nos arredores da cidade santa. O clima é tenso e o leitor se sente envolvido num verdadeiro tribunal, montado para condenar a Jesus. Interferem testemunhas, o próprio Senhor chama em causa as obras realizadas e a ação do Pai do Céu, o seu Pai. “O Pai e eu somos um!” (Jo 10, 30). O conflito está armado! Sua visita a Betânia, quando faz voltar à vida seu amigo Lázaro, será o cume e desencadeará a decisão de levá-lo à morte. (Jo 11, 47-57)
É neste ambiente que Jesus conta a parábola do Bom Pastor, acolhe com misericórdia a mulher adúltera, proclama-se Luz do mundo, cura o cego de nascença, vai duas vezes a Betânia, chama de novo à vida seu amigo Lázaro e entra triunfalmente em Jerusalém.
Acompanhemos Jesus em seu encontro com o Cego de nascença (Jo 9, 1-41). Perto do cego estão seus pais, aparecem os fariseus que representam os verdadeiros cegos que não querem ver, os discípulos, os vizinhos e a opinião do povo que testemunhou o milagre. O enfermo não pede nada. É Jesus que “vê” o cego de nascença. Os discípulos tomam a palavra, com a pergunta sobre o sofrimento, mas o cego está calado. Mesmo se a mentalidade corrente liga a cegueira do homem ao pecado, Jesus mostra que ela indica a situação humana. Todos nós somos cegos desde o nascimento, todos somos doentes e de tal forma que nem temos força para invocar quem pode salvar-nos.
É o médico que toma a iniciativa. Seus gestos remontam à primeira criação. Volta à cena a terra e o barro da criação do mundo. Para que o ser humano possa ver, é necessária uma recriação! E Jesus manda o homem se lavar, e este obedece, diferente de Adão, que desobedeceu. O homem que antes não conhecia Jesus vive seu ato de fé. Dele nasce a sabedoria que vem do alto, pois sabe dar glória a Deus com suas palavras e com a adoração. Com esta sabedoria ele responde às interrogações das autoridades. Quem dá glória a Deus e adora “sabe das coisas de forma diferente”.
A humanidade, representada pelas pessoas envolvidas nos acontecimentos, onde o “pecado do mundo” se manifesta, procura uma resposta para o mistério da cegueira e do mal, o mistério do pecado. Existe uma ignorância coletiva representada pelo próprio cego, seus familiares e outros que o conheciam. Mas existe também a ignorância dos que não querem ver. Querem culpar uns e outros, sem saber se é pessoal ou coletiva a responsabilidade pelo mal do mundo! Só o encontro pessoal com Jesus Cristo pode iluminar a situação e libertar do pecado pessoal e comunitário. Acreditando em Jesus Cristo, luz do mundo, o cristão se torna filho da Luz, neutraliza com sua vida o pecado do mundo e pode irradiar nas trevas desse mundo a luz da verdade!
É pouco a pouco que o cego de nascença e todos os cegos, entre os quais estamos incluídos, conhecem Jesus. Primeiro é reconhecido como homem, depois como profeta (Jo 9, 17) e enfim como Messias (Jo 9, 36-38). Na palavra e nas ações de Jesus, na sua pessoa, encontramos a salvação pessoal e coletiva da cegueira que envolve a humanidade. Jesus salva sendo a Luz do mundo!
Até hoje nos deparamos com situações conflitivas e tocamos nas bordas do impossível, mesmo com todos os recursos oferecidos pela ciência e pela técnica. De um lado, aprendemos muito quando levados a acolher os próprios limites. Nem sempre temos soluções para tudo e nem por isso somos fadados à infelicidade.
Esta é a situação dolorosa na qual se encontra o planeta inteiro por causa de um vírus que se espalha, com graves consequências para todos. Acorrem os cientistas e os técnicos, articulam-se os vários níveis de governo, mas sabemos que não existem soluções mágicas e ou rápidas. Somos forçosamente conduzidos a uma série de providências, de acordo com as orientações sanitárias das autoridades, a serem seriamente observadas. “Os cuidados com higienização pessoal e do ambiente, bem como o evitar aglomerações, são regras que precisam ser seguidas por todos, com irrestrita atenção e cuidados, a partir da própria consciência, regida pelo bom senso e pela fraternidade. Por isso, é importante que essas orientações sejam acolhidas como uma contribuição em vista do bem de todos. Elas requerem ser acompanhadas de muita oração elevando nossos corações ao Deus da Vida, no acolhimento de sua Palavra e por uma vivência de renúncias neste tempo quaresmal. Em momentos difíceis e delicados como este, mais fortes devem ser nossa fé, esperança e união. Algumas restrições mexem com o nosso jeito de conviver e celebrar, pois somos um povo que traz em si o desejo de sempre estar juntos, tanto nos momentos alegres quanto tristes. Conscientes de que as restrições ao convívio não durarão para sempre, aprendamos, a valorizar a fraternidade. Aproveitemos para pensar nos inúmeros outros modos em que a vida de pessoas, povos e do planeta vem sendo agredida. Tornemo-nos ainda mais desejosos de, passada a pandemia, podermos estar juntos, celebrando a vida, a saúde, a concórdia e a paz” (Cf. Nota da CNBB “Tempos de esperança e solidariedade, do dia 14 de março de 2020).
Entretanto, as interrogações são mais profundas quando tocam no sentido da vida. Só no encontro pessoal com Jesus Cristo homem, profeta, Messias, Filho de Deus, Salvador, é que os olhos se abrirão para a luz da verdade. Não há que temer apresentar-lhe todos os nossos questionamentos. As soluções para o impossível não serão mágicas, mas profundamente humanas e magnificamente divinas!