“Vossa palavra é um facho que ilumina meus passos. E uma luz em meu caminho” (Sl 118, 105)

Como se sabe, a Igreja Católica no Brasil celebra em setembro o “Mês da Bíblia”. A princípio entendamos porque dedicar um mês para recordar aos católicos o valor das Sagradas Escrituras. Cabe dizer que isso se deve ao fato de que no dia 30 de setembro a Igreja faz memória de São Jerônimo (347-420), o Doutor Bíblico.

São Jerônimo nasceu na região da Dalmácia que atualmente abrange países como a Croácia, a Bósnia-Herzegovina e o Montenegro. Tendo sido educado em Roma, dominou o latim, o grego e o hebraico, caracterizando-se como um dos mais importantes Padres da Igreja, chegando a ser secretário do Papa Dâmaso I (papado de 366-384) e convivido com outros grandes doutos apologetas. Convocado por esse mesmo Pontífice, Jerônimo passou anos na Terra Santa para compilar as Sagradas Escrituras em uma obra que ficou conhecida como Vulgata na qual o seu compilador pegou a parte correspondente ao Velho Testamento, toda em hebraico, o Novo Testamento em grego e traduziu tudo para o latim vulgar, ou seja, a língua latina falada pelo povo em sua época (com variações que o diferenciavam do latim clássico dos eruditos).

Quanto à Bíblia, há um problema na compreensão de muitos cristãos no Brasil (católicos e evangélicos) que não se interessam por aprofundar-se na fé que professam. Tal equívoco se dá em confundir as Sagradas Escrituras (o Cânon Sagrado, a Palavra de Deus) com um livro ao qual denominamos Bíblia. Ocorre que as Sagradas Escrituras são um dos meios pelos quais Deus exerceu a sua Revelação aos homens, enquanto que a Bíblia é o livro que reúne os livros sagrados em forma de compêndio. Contudo, a Revelação feita por Deus não se resume unicamente ao livro sagrado do Cristianismo, o que faz com que essencialmente ele não seja apenas mais uma “religião do livro”.

As Sagradas Escrituras reconhecidas pela Igreja constituem a fala de Deus em linguagem humana, de maneira paralela ao Verbo divino que se fez carne (Jo 1, 14). Em todo caso, nos Livros Sagrados não estão ditas apenas palavras humanas visto que se apresentam como “Palavra de Deus”, pois foram inspirados pelo Espírito Santo.

“A santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes, porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, eles têm Deus como autor e nesta sua qualidade foram confiados à própria Igreja” (Dei Verbum, 11).

Para a correta interpretação da Palavra de Deus, num primeiro momento se deve considerar o contexto no qual determinada passagem bíblica se localiza, mas ainda não é o bastante. É necessário ouvir ou ler com atenção entendendo que apesar de ser composta por 73 livros diferentes, a Bíblia apresenta um sentido salvífico que Deus dá à história em favor do ser humano, note-se que Cristo é a figura central de todo o plano de salvação. Um segundo ponto a ser destacado é que as Escrituras Sagradas ganham sentido estando envolvidas na Tradição, ou seja, na vida mesma da Igreja no decorrer dos séculos. Santo Agostinho afirmava que “não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja Católica”, entenda-se pois a necessidade de interpretar conforme o ensinamento da Igreja nela e com ela. O terceiro aspecto que não pode ser deixado de lado é que as Sagradas Escrituras possuem uma lógica característica voltada para a fé, de modo que apesar de não possuir uma estrita linearidade, possui um percurso que se encerra na glorificação do Pai em seu Filho Jesus Cristo que permanece no mundo por seu Espírito Santo.

Na Palavra de Deus podemos encontrar respostas necessárias para momentos específicos da vida, até mesmo utiliza-la nos momentos de aflição com o intuito de nos textos sagrados encontrar um conforto de esperança, pode ser matéria de estudo para aqueles que se voltam à exegese e, geralmente, é também chamada de atenção para a maneira como levamos a vida, mas certamente, nas Sagradas Escrituras, a Igreja se alimenta da pregação do Cristo, também reconhecendo a infinita misericórdia do Mestre, pois Deus se dirige aos seus filhos e fala com eles.

  Edvando Barros é seminarista postulante Barnabita.