Durante estes dias de fim de ano, algumas pessoas se interrogam sobre os motivos de tanta gente na rua, justamente quando quem faz a observação também está na rua! Há um afã de comprar presentes, muitos querem renovar a sua casa, tantos medem o Natal por uma Ceia, sem dúvida significativa, mas muito menor do que a grandeza do acontecimento celebrado. É claro que nos alegramos porque há pessoas que pelo menos neste período relembram que há um aniversariante, e que dois mil e vinte e um anos atrás nasceu em Belém de Judá, vindo do Céu para nos salvar e dar a vida em plenitude! Aproveitemos o tempo para arrumar a casa de nosso coração, a fim de que o Natal seja verdadeiro para todos.
Vamos a Belém de Judá para ver o que lá aconteceu, foi a decisão dos pastores que passavam as noites cuidando de seus rebanhos. E o que encontraram? Uma cena tão comum quanto extraordinária, a mãe com a criança no colo, uma estrebaria, a manjedoura, um José solícito para cuidar da mãe e da criança. Em Belém se aprende a viver com aquilo que é essencial, apenas o mais importante para viver e sobreviver. E Deus escolheu um operário, carpinteiro que talvez fosse um verdadeiro mestre de obras. E Maria, uma adolescente de Nazaré, cidade de gente simples. Os dois certamente faziam parte de um pequeno “resto”, pessoas que mantinham a esperança na vinda do Messias. Belém, “pequenina entre os povoados de Judá”, tinha uma vocação vinda do plano de Deus, devendo sair de lá o Salvador. Dela aprendemos a simplicidade, o valor dos pequenos gestos e o reconhecimento do amor de Deus pelos pequenos.
De lá, já estamos em Belém do Pará. Providencialmente nossa cidade nasceu em torno do Forte do Presépio. Certamente Deus não deseja que esqueçamos nossas origens cristãs. Aqui deve haver sempre espaço para Jesus ser acolhido e nascer no coração das pessoas. Aceitemos o desafio de encontrar lugar para todos, sem exclusão de quem quer que seja nesta terra. Belém tem diante de si muitos desafios, e o primeiro a ser considerado é justamente a realidade de suas periferias. Se na simplicidade de tantas casas e palafitas há uma preciosidade de gente que quer crescer e acertar na vida, a população e as autoridades aproveitem o Natal para ampliar sua visão, olhando para quem está mais longe e sofre mais. Além disso, cabe a Belém do Pará fazer tudo para que não morram nossas crianças, vítimas do aborto, da violência, da fome e do descaso da sociedade. Belém do Pará, assim como tantas outra cidades e regiões do país, sofre com a falta de emprego estável e trabalho digno para tantas pessoas. Por outro lado, Belém do Pará pode reencontrar muitos valores e pessoas que têm muito a oferecer, para contribuir com a sociedade. É hora de identificar a obra que Deus vem realizando através das pessoas. Quantas obras sociais e iniciativas, das Igrejas e Comunidades Eclesiais assim como de Instituições e Agregações da Sociedade Civil!
Reconhecemos que esta “arrumação da casa”, cujos detalhes poderiam ser descritos com mais amplidão, pede uma pergunta e uma resposta. Alguém desejará saber como pode ajudar a mudar o nosso mundo e nossa cidade. A Liturgia do Quarto Domingo do Advento aplica a Jesus (Hb 10,5-10) o que o salmista tinha dito muito tempo antes: “Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade”. A primeira resposta é apaixonar-se por aquilo que agrada a Deus, buscar a sua vontade, que se expressa especialmente no amor ao próximo. Pede ainda o discernimento necessário para fazer sempre o bem e não se acomodar com o mal.
Para não nos sentirmos sozinhos e, quem sabe, desanimados, diante dos muitos desafios que se apresentam como consequência do Natal, a sabedoria da Igreja nos apresenta a Mãe de todos, Maria de Nazaré. Sabendo da gravidez de sua prima Isabel, dirigiu-se apressadamente, ela mesma no início de uma gravidez, para servir! Passou aqueles três meses com Isabel fazendo coisas simples, ajudando a preparar o nascimento da criança, que veio a se chamar João, o Batista. A receita é assustadoramente simples: viver bem cada momento presente, fazendo o bem que estiver ao nosso alcance. Se cada um de nós não pode mudar o mundo inteiro, aquele pedacinho que está à nossa frente pode ser melhor porque cada um de nós existe!
Entretanto, quando a Virgem Maria chegou à casa de Isabel, esta identificou o segredo que viria a ser anunciado a todos os povos, sentiu a criança pular de alegria em seu ventre. Duas mães que se encontram, a idosa Isabel e a Virgem Maria, que a Igreja chama de Arca da Aliança! Duas crianças que mais tarde vão também se encontrar, ali ainda presentes nos corpos grávidos de suas mães. E Isabel proclama a primeira bem-aventurança dos Evangelhos, a bem-aventurança da fé.
Desde Belém de Judá, para chegar a Belém do Pará e viver bem o Natal é necessário renovar a fé no mistério do amor de Deus que se derrama sobre o mundo. As coisas são tão simples que podem escapar ao nosso olhar! Desejo ir às origens de Belém, olhar com fé todos os presépios de lá para cá construídos, pequenos ou grandes, e readquirir, com todo o meu povo, a simplicidade dos personagens que se envolveram nos fatos celebrados no mistério no Natal.
De José, homem justo e bom, fiel guardião do Redentor, aprendemos que Jesus entra em nossa vida na fidelidade do cotidiano bem vivido, mesmo no escondimento de tantos pais de família. De Maria, Mãe do Redentor, aqui chamada com os títulos de Nazaré, Santa Maria de Belém e Nossa Senhora da Graça, podemos aprender a graça das escuta das moções do Espírito Santo, já que ele está sempre de prontidão para conduzir nossos passos na vontade de Deus, fonte de alegria para todo o povo. Talvez alguém se sinta até como um daqueles animais que são postos para compor o presépio, escondidos, mas importantes. É que ninguém desta terra tem direito de se excluir no grande presépio feito na cidade de Belém do Pará.
Entretanto, é do Menino cujas imagens colocamos no presépio no Natal, que aprendemos a grande lição. Sendo Deus, não se apegou à igualdade com ele, mas humilhou-se, tornando-se obediente até à morte, e morte de Cruz. Na Belém do Pará de hoje, ele vem a nós presente em cada pessoa humana que desejamos acolher com fé, o primeiro próximo que amarmos ao final dessa leitura, ali se antecipa o Natal, Pois todos os corações podem ser novos presépios. Lá dentro, Maria, José e o Menino Jesus nos acolhem, para sairmos em missão!