Pelo segundo ano consecutivo, a peça ficou a cargo de Celeste Heitmann e Khátia Novelino, e é inspirada no tema do Círio 2019, “Maria, Mãe da Igreja”

Um dos momentos de maior expectativa dos devotos de Nossa Senhora de Nazaré, nos dias que antecedem o Círio, é a apresentação do Manto Oficial, usado pela Imagem Peregrina durante as procissões. Esse ano não foi diferente: a Rainha da Amazônia encantou a todos e ganhou ainda mais esplendor depois de adornada com o manto criado a partir do tema escolhido pelo arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, apresentado no último dia 10, na Basílica Santuário de Nazaré.

Criado pela artista plástica Celeste Heitmann e confeccionado pela estilista Khátia Novelino, o manto é inspirado no tema do Círio 2019, “Maria, Mãe da Igreja”, e começou a ser elaborado em fevereiro deste ano. É o segundo ano consecutivo que a Diretoria da Festa renova parceria com a dupla criativa.

SUPERPRODUÇÃO

O projeto de concepção de um dos ícones mais significativos da maior procissão religiosa do Mundo tem contornos de superprodução, como merece. Após reuniões da equipe de criação, Celeste Heitmann iniciou um minucioso trabalho de pesquisa, desenvolvendo algumas opções de modelos. Com o projeto concluído e aprovado, foram iniciados os trabalhos de confecção do Manto.

E valeu a pena esperar mais de sete meses pela conclusão da peça. Todos se encantaram com sua beleza harmoniosa, durante a cerimônia de apresentação. O manto foi produzido com materiais nobres, sendo todo em cetim branco de seda pura e renda chantilly francesa prata; o fundo tem vidrilhos jablonex nas cores prata, branco erizado e grafite acetinado, decorado com cristais sextavados boreal transparentes. A peça é adornada com flores e folhas em organza com verso em veludo, rebordadas em vidrilho bege acetinado, branco erizado, três tons de verde e cristais na cor cobre, e uma cruz bordada em linha de seda nos tons prata, ouro e cobre. O manto possui ainda peças em prata banhadas a ouro, ponteiras da cruz, ostensório, broche, contendo pérolas, rubis, diamantes e crisopázios. O barrado é todo bordado em cristais e vidrilho prata.

A equipe de experts responsável pelo manto, além de Celeste Heitmann e Káthia Novelino, contou ainda com Marcelo Monteiro /Ourogema, encarregado dos Metais; Lílian Castro, com as Pedras; bordados de Rosa Ventura e Antônio José Sousa e costura de Edyr Silva.

SAUDAÇÃO

Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém, descreve a peça poeticamente: “No manto de Nossa Senhora de Nazaré de 2019, a figura de Maria, Mãe da Igreja se expressa de modo simples e belo. Ele homenageia o Sínodo dos Bispos para a Pan-Amazônia e os 300 anos de criação da Diocese de Belém, hoje Arquidiocese. A sumaumeira, dado o seu significado de árvore da vida para os povos originários de nossa Região Amazônica, rainha das outras árvores, nos remete à vida que circula entre nós. Na flor, a delicadeza de Maria, na árvore, a fortaleza, virtude vivida por Maria aos pés da Cruz. O broche do manto de 2019 traz a homenagem aos 300 anos da Diocese de Belém, com a Igreja Mãe, a Catedral, sobre um barco”.

MEMÓRIA

Os mantos são peças de vestuário que perpassam a história da humanidade, desde o mundo pré-cristão – na época, usados por deuses e homens. Com o início da era cristã, o manto passa a ser também a vestimenta que envolve as imagens das diferentes manifestações de Santa Maria. Desde então, a peça simboliza o manto do poder, da proteção e da pureza da Virgem.

Em Belém, não há consenso entre os pesquisadores quanto à imagem original, se usava manto ou não. Uma versão diz que a imagem de Nossa Senhora de Nazaré já vestia um manto, de cor azul com gotas de orvalho como pérolas, quando Plácido a encontrou. A partir de 1904, a imagem passou a usar uma coroa ofertada pela Princesa Isabel assim como o manto azul-marinho. Em 1953, recebeu um manto bordado a ouro e pedras preciosas durante o 6º Congresso Eucarístico Nacional, realizado na capital paraense.

Tradicionalmente, tornou-se uma honra e graça confeccionar o manto da Imagem Peregrina. Até sua morte, em 1973, Irmã Alexandra, da Congregação Filhas de Sant’Ana, do Colégio Gentil Bittencourt, confeccionava os mantos anualmente, com material doado por promesseiros. Depois, sua discípula, Esther Paes França, chegou a confeccionar 19 mantos. A partir daí, a tarefa foi assumida por vários católicos e estilistas famosos, a cada ano se superando em beleza e sofisticação.

Texto: Emiliana Costa

Foto: Yêda Sousa – Ascom Basílica Santuário de Nazaré