DESCRITIVO POR DOM ALBERTO TAVEIRA CORRÊA, ARCEBISPO METROPOLITANO DE BELÉM

A Palavra de Deus reúne a Igreja para a Liturgia e ilumina nossa devoção mariana, que convoca e sustenta nossa história religiosa e nossa participação no Círio de Nazaré:

“O Senhor é a minha grande alegria, meu espírito está em festa pelo meu Deus, pois ele me vestiu de salvação, cobriu-me com o manto da justiça, qual noivo com a joia no turbante, qual noiva recoberta de adornos” (Is 61,10).

“Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: Esquecei vosso povo e a casa paterna! Que o Rei se encante com vossa beleza!
Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor! O povo de Tiro vos traz seus presentes, os grandes do povo vos pedem favores. Majestosa, a princesa real vem chegando, vestida de ricos brocados de ouro.  Em vestes vistosas ao Rei se dirige, e as virgens amigas lhe formam cortejo; entre cantos de festa e com grande alegria, ingressam, então, no palácio real”. Deixareis vossos pais, mas tereis muitos filhos; fareis deles os reis soberanos da terra.  Cantarei vosso nome de idade em idade, para sempre haverão de louvar-vos os povos! (Sl 44,11-18)

De idade em idade, para nós o Tempo do Círio é tempo de festa e de alegria, para todos nós tempo da graça, pois oSenhor está em nosso meio, reunidos em seu nome. Aquela que a Igreja chama de “Sede da Sabedoria”, a Virgem Maria, a Imaculada, é Mãe de Família, “dona de casa” em Nazaré. Jesus é o Verbo de Deus feito Carne e Maria é a criatura toda revestida da Palavra de Deus, como de um manto de justiça. Com Jesus e Maria, a Sagrada Família se realiza com a presença e José, homem justo e bom, guardião da própria família e de nossas famílias.

Entramos agora na Casa de Nazaré, que se abre para todos nós, como um Evangelho Vivo, fazendo memória da Obra de Deus, desde a criação.

De fato, a Palavra nos relata que Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão” (Gn 1, 28).Deus fez o ser humano à sua imagem e semelhança, constituindo homem e mulher como família para que se fortaleçam, multipliquem-se e reinem sobre terra. É a família o esteio e o descanso do homem e da mulher, onde elevam suas almas a Deus, reproduzindo a obra divina da criação.

Chegando a este Santuário quais peregrinos, podemos proclamar com o salmista: “Feliz quem teme o Senhor e segue seus caminhos. Viverás do trabalho de tuas mãos, viverás feliz e satisfeito. Tua esposa será como uma vinha fecunda no interior de tua casa; teus filhos, como brotos de oliveira ao redor de tua mesa. Assim será abençoado o homem que teme o Senhor. De Sião o Senhor te abençoe! Possas ver Jerusalém feliz todos os dias de tua vida. E vejas os filhos de teus filhos. Paz sobre Israel! (Sl 127, 3-5)

Jesus nasceu e cresceu no seio de uma família. É o Evangelho vivo, o Verbo que se fez carne na Casa de Maria. À luz da Palavra foi tecido o manto da Virgem de Nazaré para este ano de 2021. Participemos da aventura espiritual que acompanhou sua confecção:

A cor predominante do manto é verde água, um tom suave e sereno do verde, encerrando esperança, com complementos em prata, pérola e outros tons de verde. Destacam-se bordados eclesiásticos compondo a ornamentação em prata e dourado. Na borda, as cordas e laços de amor com que Maria nos cerca, com os quais as famílias devem também envolver-se. “Como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos com sentimentos de compaixão, com bondade, humildade, mansidão, paciência; suportai-vos uns aos outros e, se um tiver motivo de queixa contra o outro, perdoai-vos mutuamente. Como o Senhor vos perdoou, fazei assim também vós. Sobretudo, revesti-vos do amor, que une a todos na perfeição (Cl 3,12-14).

Aqui, manto e o convite a revestir-se de amor podem conduzir-nos, passando pela casa de Nazaré, Evangelho vivo, à unidade familiar: “Desde o princípio da criação Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois formarão uma só carne; assim, já não são dois, mas uma só carne.  Portanto, o que Deus uniu o homem não separe!” (Mc 10,6-9)

O broche à frente do manto traz o “Zayn” – ז, número sete em hebraico, a simbolizar o fundamento da palavra de Deus, o número da plenitude e da perfeição física e espiritual inerente a toda a obra de Deus sobre a terra. A perfeição da criação revela a grandeza do Criador.

O manto reveste a Imagem de Nossa Senhora de Nazaré, trazendo em seu contorno uma figura estilizada da Sagrada Família ao centro, com camafeu em madrepérola, circundado por bordados eclesiásticos e demais elementos que integram a ornamentação do manto.

Adentrando nossa Basílica Santuário de Nazaré, ou participando do Círio, deixemo-nos iluminar pelo significado do Manto de 2021. Para conduzir-nos em nosso olhar de devoção e amor voltado para Nossa Senhora, podemos acolher o convite de São Bernardo de Claraval: “Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Não esteja o seu nome ausente da tua boca, não esteja ausente do teu coração. E para obter o socorro de suas orações, não te separes do exemplo de sua vida. Se a segues, não te extraviarás; se a invocas, não desesperarás; se pensas nela, não errarás. Sob a sua proteção não terás medo; sob a sua direção não te cansarás; sob o seu amparo, alcançarás a meta. E assim experimentarás em ti mesmo como é verdadeira esta palavra: ‘E o nome da Virgem era Maria’