Estação dos Carros Pe. Luciano Brambilla

No domingo (08), após a Santa Missa das 18h, aconteceu a inauguração da nova Estação dos Carros Pe. Luciano Brambilla, uma homenagem ao sacerdote que contribuiu para a disseminação da devoção mariana em Nazaré. Conheça a história deste Barnabita italiano, narrada pelo padre Giovanni Maria Incampo:

PADRE LUCIANO M. BRAMBILLA, Missionário Barnabita | 1926 – 2016

Padre Luciano Brambilla foi o último patriarca barnabita da antiga Prelazia do Guamá, terra de missão que a Ordem Religiosa dos Barnabitas recebera do Papa Pio XI desde 1928, atual Diocese de Bragança, no Estado do Pará. Passou para a glória em 14 de abril de 2016, três meses antes de completar 90 anos de idade. Tinha 65 anos de vida doada ao Brasil.

Nascido em Arena Pó (Pavia – Itália), embora batizado como Alfredo, foi sempre e em toda parte chamado e reconhecido com o nome de Luciano. Juntamente com as duas irmãs, Camilla e Marilena, desde cedo foi educado no sentido religioso da vida. Em casa o santo Rosário era rezado todos os dias, em latim, aos 5 anos já recitava a Ladainha, em latim. Coroinha, com a sua bela voz cantava, mesmo sozinho, nas missas e nos funerais.

Sentiu o chamado do Senhor desde garoto e seus pais, com muita fé, aceitaram, apesar de se privarem do único filho homem. Com apenas 13 anos, já falecido o pai e estourada a 2ª Guerra Mundial, no dia 18 de outubro de 1939, com 13 anos, Luciano ingressou no Seminário Menor dos Barnabitas em Cremona – pátria do fundador da Ordem, Santo Antônio Maria Zaccaria – para se tornar e permanecer sacerdote religioso por toda a vida. Foi ordenado padre em 24 de março de 1951, em Roma, com outros 21 colegas.

O espaço abriga os treze carros de promessas, além da Berlinda

Primeiro destino? Ele contou que desde o seminário menor entendeu que a sua vocação era “ser missionário no Brasil”, entusiasmado pelos exemplos e palavras de outros missionários barnabitas, sobretudo do Servo de Deus, Dom Eliseu M. Coroli, Bispo Prelado de Bragança que, naqueles anos da guerra (1939-1945), recrutava gente generosa, inteligente e com espírito de sacrifício. Luciano foi um deles.

Desde seminarista treinou-se conscientemente para os sacrifícios da missão, sua obsessão durante os anos de formação. Para tanto, escolheu as funções mais pesadas ​​e humildes. No seminário, foi voluntariamente sapateiro, pedreiro e barbeiro até se tornar barbeiro oficial do Superior Geral, Padre Idelfonso M. Clerici. Certa vez, enquanto cortava-lhe o cabelo, pediu ao Padre garantia de sua designação para a missão no Brasil. “Veremos quanto vai durar este fogo de palha” – respondeu o nobre cliente.

Mas aquele fogo nunca se apagou e o Superior Geral aquiesceu como certo a sua ida à Bragança. Impaciente, comunicou imediatamente a todos, com grande dor e resignação da família. Terminados os estudos eclesiásticos, teve apenas alguns meses para preparar documentos e bagagem. Em 7 de dezembro de 1951, após 16 dias de mar, desembarcou no Rio de Janeiro; e a 11 de fevereiro de 1952, já o encontramos em Bragança, onde trabalharia por 26 anos até 3 de março de 1978. Padre Luciano, com físico de atleta, voz trovejante e entusiasmo inesgotável, tornou-se braço direito e homem de confiança de Dom Eliseu, pondo suas numerosas e incomuns qualidades a serviço da nascente Igreja bragantina.

O Arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, participou da cerimônia de inauguração ao lado do Pe. Francisco M. Cavalcante – Reitor da Basílica Santuário e Pároco de Nazaré

Em Bragança fazia tudo: pároco, professor, administrador, agricultor, engenheiro, mestre de obras; foi a alma de tudo o que se passou na Prelazia. Geralmente não era fácil opor-se às opiniões do Padre Luciano, cujo “pavio curto” o fazia reagir repentinamente e impor silêncio com a sua voz estrondosa. Motivo pelo qual, nos últimos anos, foi persuadido a não mais atender confissões dada a impaciência com os penitentes.

Entre as várias e numerosas obras e atividades em Bragança, podemos citar: construção e administração do Hospital e Maternidade Santo Antônio Maria Zaccaria; escola para alunos internos; cursos profissionalizantes e escola agrícola;  educação à distância, por meio da Rádio Educadora; multiplicação e fortalecimento das comunidades de base; Clubes de mães; incentivo à tecelagem doméstica de redes com distribuição de teares às famílias; o Ginásio de Esportes Dom Eliseu Corolli – inicialmente “Brambillão”. Coube também ao Padre apoiar e assistir Dom Eliseu em sua mais benquista e acalentada obra: a consolidação da Congregação das Irmãs Missionárias de Santa Terezinha.

O Padre Brambilla sempre foi um homem corajoso, temerário, ousado, às vezes quase insolente, mas de imensa bondade. Quando em Bragança, enquanto a multidão enfurecida, após incendiar a delegacia, arrancou um bandido da cadeia e o arrastava pela praça do terminal, ao ser avisado, o Padre correu ali no seu Jeep (que, ao frear, deu um estouro como um tiro pro alto). Com o vozeirão ameaçador, o poder e o prestígio de que gozava junto ao povo, conseguiu acalmar a multidão e normalizar a situação, com o infeliz bandido nas mãos dos policiais que assistiam perplexos… Contava haver transportado por bom trecho de estrada o cadáver em decomposição de outro missionário barnabita, assassinado em viagem de barco e lançado às águas, encontrado dias depois por pescadores em praia de Viseu. Na década de 80, quando avançar já não era assim tão simples, esforçava-se por conduzir a procissão do Círio de Nazaré num ritmo enérgico como era o seu, intervindo e por vezes atropelando o trabalho da Diretoria da Festa, das Forças Armadas e da Guarda de Nossa Senhora; vantava-se daquele ano em que a grande Romaria chegou à Basílica às 10:30h.

Visão interna da Estação dos Carros Pe. Luciano Brambilla 

Sim, o ano de 1978 marcara uma virada na atividade apostólica do Padre Luciano. Após 26 anos no interior, foi transferido para Belém, assumindo então a Paróquia e a Basílica de Nazaré. Permaneceria aqui de 15 de dezembro de 1978 até janeiro de 1988. Foram nove anos de intenso trabalho pastoral, administrativo e estrutural na gestão de três entidades: paróquia, obras sociais e o Círio (a maior romaria religiosa do mundo), assessorado por Irmã Martha Bechir Elias, Missionária de Santa Teresinha, expert em contabilidade administrativa.

Nas estruturas, o Padre Luciano desdobra-se na concepção, construção, reforma ou adaptação de igrejas, centros sociais e outros espaços multiuso na área paroquial urbana e fora de Belém, com ambulatórios, consultórios odontológicos, clubes de mães, casa de espiritualidade, cursos profissionalizantes. Além do Centro Social São José (hoje paróquia), no Centro Social Padre Alfonso Di Giorgio – Sagrado Coração de Jesus, na Comunidade Nossa Senhora das Graças, na Comunidade Santo Antônio Maria Zaccaria, na Comunidade Sagrada Família, na então nômade Comunidade Santa Bernadete, nas Creches Sorena, Casulo e Cantinho São Rafael (Ananindeua).

Acenos à parte merecem:

1) A aquisição e construção do Centro Social de Nazaré, onde desde 1980 funcionam a Diretoria do Círio, a Catequese paroquial e numerosos ministérios pastorais com estacionamento anexo. Projetado inicialmente para um cinema e avaliado em 800 mil reais, Padre Luciano o adquiriu por apenas 200 mil – verdadeiro milagre de Nossa Senhora da Nazaré!

2) O Centro Arquitetônico da Nazaré (CAN), projetado pelo arquiteto Roberto Martins, edificado com fomento federal concedido pelo Presidente J.B. Figueiredo, através do senador Jorge Arbage e do prefeito de Belém Sahid Xerfan. Essa obra concedeu à Basílica de Nazaré um digno e arrumado espaço como o têm os grandes Santuários do mundo. Projeto hostilizado à época de sua execução, foi, todavia, apoiado com tenacidade e levado adiante pela força moral do Padre Brambilla. Com essa mesma visão, aliando fé e turismo, ele iniciou a Romaria Fluvial levando e imagem de Nossa Senhora de Nazaré de Icoaraci pela Baía do Guajará até o porto de Belém, no sábado antes do Círio – um verdadeiro espetáculo!

Espaço destinado aos carros de promessas

No campo pastoral, entre outras várias iniciativas, destaca-se o acolhimento e a multiplicação das Comunidades Neocatecumenais, que da Paróquia de Nazaré se fazem presentes em muitas outras, às quais Padre Luciano dedicou-se como capelão protetor – desde 1979 – e que solenizaram a celebração de suas exéquias com canções gloriosas características.

Não podemos esquecer a apoteose das 10 mil crianças que lotaram a Praça do Santuário para receber o Papa São João Paulo II, em 1982. Infelizmente, sem ter sido avisado e forçado por Mons. Marcinkus, a carreata pontifícia não parou e sequer notou a berlinda com a venerada Imagem Original no átrio da Basílica com o que – pensou-se – o Pontífice abençoaria as crianças e a multidão. Fortemente contrariado, Padre Luciano correu atrás do cortejo papal, vociferando, sem êxito. Ao par do incidente, na manhã seguinte o Pontífice quis reparar o desgosto popular e, tendo em mãos a Imagem, abençoou a multidão da sacada do palácio episcopal.

Em julho de 2005, recebeu com silenciosa obediência a destinação à comunidade e Paróquia de São Diogo, em Fortaleza, Ceará. Como  as atividades do Padre foram reduzidas ao mínimo, encontrou tempo e satisfação lendo muito e ajudando espiritualmente as comunidades neocatecumenais e o Instituto Hezed como confessor e pregador.

Em 2013, ele próprio pediu para regressar a Belém, onde passaria os últimos anos de sua vida. Na comemoração dos 65 anos de sua ordenação (24 de março de 2016), chegou-lhe uma mensagem do Centro Missionário Diocesano de Tortona, sua terra natal, que o destinatário, já em coma, não pode ler:

– “Caro Padre Luciano, receba a expressão do nosso afeto e estima pelos 65 anos de sacerdócio. Com ela e por ela agradecemos ao Senhor por tantas graças e, sobretudo, pelo grande bem-feito a tantos irmãos mais pobres em solo brasileiro. Lembre-nos a Jesus na Santa Missa. Um grande abraço!”

Nós nos associamos a essas palavras!

Padre Giovanni M. Incampo

Missionário Barnabita

Pe. Giovanni Maria Incampo na cerimônia de inauguração