Por caminhos diversos os quatro evangelistas narram os últimos dias de Jesus Cristo em Jerusalém. Nos recordamos e atualizamos, de maneira especial, no Tríduo Pascal, iniciando com a Ceia do Senhor, culminando com a Vigília Pascal, a Ressurreição do Senhor.

Na última ceia Jesus escolheu dois elementos da terra, o pão e o vinho, e os transformou em seu Corpo e Sangue, sua presença real e perpetua em nosso meio. As primeiras comunidades cristãs celebraram nas Sinagogas, a Palavra de Deus e em suas Comunidades a “fractions panis”. A festa da alegria (ágape) que unia as pessoas em Cristo Jesus e em comunidade.

Com o passar dos anos, as comunidades cristãs se distanciaram da sua matriz hebraica e desenvolveram uma eclesiologia própria, centrada no Cristo Ressuscitado, tendo a Eucaristia como ponto central da sua existência. Em cada celebração a comunidade dos fiéis se alimenta da Palavra e do Pão que veio do Céu.

O discurso apostólico de fé, o kerigma, é centrado no mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, (cf. At. 2,14-32) que é celebrado e atualizado na Eucaristia. O credente, semanalmente, faz comunhão com o Ressuscitado e dessa experiência de vida, começa a surgir o grande amor pela hóstia consagrada, presença real do Senhor em nosso meio. Assim se realiza a promessa feita por Jesus de estar conosco até a consumação dos séculos (cf. Mt 28,20).

Na Didaqué, (1º catecismo da Igreja, escrito entre os anos 60 e 90), não se menciona explicitamente a presença real de Jesus, mas afirma: Que ninguém, contudo, coma nem beba da vossa ação de graças senão os batizados no nome do Senhor, pois acerca disso disse o Senhor: ‘Não deis o sagrado aos cães’” (Didaqué 9,1-4). Depois menciona o costume de celebrar a Eucaristia: “Reunidos a cada dia do Senhor, fracionai o pão e dai graças, …porque este é o sacrifício de que disse o Senhor: ‘Em todo lugar e a todo tempo se me oferece um sacrifício puro, porque eu sou Rei grande – diz o Senhor – e meu nome é admirável entre as nações”(Didaqué 14,1-3).

Com o passar dos séculos a Devoção à Eucaristia vai se firmando na Igreja. Como solenidade litúrgica, a Festa de Corpus Christi, foi instituída pelo Papa Urbano IV (1262-1264), através da bula “Transiturus”, de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na Quinta-feira após a festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. Urbano IV, antes de ser escolhido Papa, foi Cônego de Liége (Bélgica) e se chamava Tiago Pantaleão de Troyes, o mesmo que recebeu o segredo das visões da Freira Juliana de Liége, que pedia uma festa da Santa Eucaristia no calendário litúrgico. Esta solenidade entra no calendário litúrgico da Igreja para evidenciar e enfatizar a presença real do Senhor Jesus no pão e no cálice consagrados.

Um sacerdote chamado Pedro de Praga, vivia angustiado por dúvidas sobre a presença real de Cristo no pão consagrado. Decidiu então ir em peregrinação ao túmulo dos Apóstolos Pedro e Paulo em Roma, para pedir o dom da fé. Ao passar por Bolsena (Itália), enquanto celebrava a Santa missa, foi novamente acometido pela dúvida. Na hora da consagração veio-lhe a resposta em forma de milagre: A sagrada hóstia branca transformou-se em carne viva, respingando sangue, manchando o corporal, o sanguíneo e a toalha do altar. Por solicitação do Papa Urbano IV, os objetos milagrosos foram para Orviedo em solene procissão. Esta foi a primeira procissão com sinais da Eucaristia. Em 11 de Agosto de 1264, o Papa lançou de Orviedo para o mundo Católico o preceito de uma festa solene em honra do corpo e sangue do Senhor.

Os tapetes de Corpus Christi surgem em Portugal no século XIII e mais tarde são introduzidos aqui, no Brasil, durante o período colonial. Somente nesse dia que a Hóstia consagrada deixa as Igrejas e, em um ostensório, levado pelo sacerdote, percorre as ruas da cidade. Na fé do povo de Deus, é o próprio Cristo que caminha pelas ruas, por isso deve ser recebido e acolhido com amor e dignidade, como foi recebido em Jerusalém, pelo povo que espalhava ramos de oliveira e suas capas pelo chão. Essa cena inspirou a criação dos tapetes de Corpus Christi para homenagear o Rei dos Reis, tapetes com motivos religiosos começaram a ser confeccionados. Tradição que continua até os dias hoje no nosso país e em Portugal, honrando a presença real de Jesus no sacramento da Eucaristia. Através destes atos devocionais, o povo cristão expressa o seu amor pela Santa Eucarístia.