Ao participarmos da Liturgia do Décimo Terceiro Domingo do Tempo Comum, temos a alegria de ouvir uma declaração altamente consoladora: “Deus não fez a morte, nem se alegra com a perdição dos vivos. Ele criou todas as coisas para existirem, e as criaturas do orbe terrestre são saudáveis: nelas não há nenhum veneno mortal, e não é o mundo dos mortos que reina sobre a terra, pois a justiça é imortal” (Sb 1,13-15). Em tempos de tanto sofrimento, como os nossos dias, queremos acolher de coração aberto esta palavra.

Nos últimos dias, os números nos deixaram perplexos e preocupados, e não é nossa missão de Igreja repisar sobre eles, pois sabemos que só aumentam os sofrimentos e as angústias das pessoas. Queremos acender a chama da esperança, comprometer-nos com palavras e gestos concretos de consolo e ajuda, na prática do mandamento do amor.

Todas as épocas da humanidade conviveram com enfermidades. Assim como nossas famílias e cada pessoa, todos estamos sujeitos a elas e somos chamados a buscar sua cura e superação. Algumas delas foram chamadas de “mal do século”, cada uma a seu tempo, como a tuberculose ou a Aids. As pandemias também acompanharam a humanidade, e nós estamos vivendo uma delas, sem tê-la imaginado, nem mesmo em sonhos! Um mal maior do que um século, invisível e destruidor, está presente entre nós e nos toca de perto.

O que fazer? Uma atitude espiritual pede serenidade, acolhimento das limitações humanas, união com o mistério da Cruz de Cristo, capacidade de oferecer tudo a Deus, acreditando na Comunhão dos Santos, com a qual contribuímos para o bem do próximo, a modo de vasos comunicantes. E aprendemos a rezar muito e rezar mais uns pelos outros, pois acreditamos na graça que nos sustenta. Quantas pessoas descobriram neste período a força da intercessão dos santos, começando pela confiança na oração da Virgem Maria, que acompanha a Igreja em sua peregrinação da fé. A ela dizemos: “Salve, Rainha, mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve! A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei. E, depois deste desterro, nos mostrai Jesus, bendito fruto do Vosso ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria”. E aprendemos que existe mesmo um vale de lágrimas! Mais ainda, olhamos para o alto e tomamos consciência da esperança da vida plena que nos anima!

Seguem-se os procedimentos humanos adequados. Aqui entram os tratamentos, remédios, vacinas, postos de saúde e hospitais, profissionais da área da saúde, cuidados com os enfermos de nossas famílias! E como desejamos que venha a existir o verdadeiro cuidado com as pessoas. “Tempo de cuidar”, é o que a Igreja no Brasil tem repetido. Um empenho sério e decidido, em busca da cura de todas as enfermidades, serviço aos que mais sofrem, pesquisas científicas e tudo o que estiver ao nosso alcance.

Mas podemos exclamar, com o coração dolorido: E a morte? É hora de reafirmar com São Paulo: “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28). Quanto tempo durará a nossa vida aqui na terra? Não sabemos. E se mais cuidados houvesse, tantas vidas teriam sido poupadas! Mas tomemos a palavra do apóstolo! Para os que amam a Deus, mesmo as dores dos acontecimentos, mesmo a morte inexplicável, e ela sempre o será, podem contribuir para o bem. Queremos as explicações, o que é razoável, mas o Senhor nos pede para declarar-lhe o nosso amor exclusivo, viver este amor, para olhar a morte do lado daquela pessoa que partiu, pois nossa fé nos diz que logo se apresentou diante de Deus, quaisquer que sejam as circunstâncias de sua partida! “Está determinado que os homens morram uma só vez, e depois vem o julgamento” (Hb 9,27). Nossos entes queridos falecidos já chegaram! Difícil de aceitar, mas honesto e reto, correspondente à fé que professamos!

No Evangelho do Domingo que estamos para celebrar (Mc 5,21-43), Jesus se encontra com a enfermidade e a morte. Ele, Senhor da vida, identifica na multidão a fé professada por uma mulher: “Filha, a tua fé te curou. Vai em paz e fica curada dessa doença”. Bastou tocar na orla do manto de Jesus! Como tantas pessoas, em meio às multidões, que querem apenas ver Jesus, tocar em sua roupa, oferecendo a todos lições de uma confiança total no Senhor! Depois, a filha de Jairo, um dos chefes da Sinagoga, ergue-se de seu leito de morte pela palavra de Jesus: “Talitá cum”, “Menina, levanta-te”. A presença do Senhor faz calar a choradeira e a confusão reinantes! Sua presença pacifica, consola, restaura, dá vida plena.

Em sua oração sacerdotal, assim rezou Jesus: “Pai, chegou a hora. Glorifica teu filho, para que teu filho te glorifique, assim como deste a ele poder sobre todos, a fim de que dê vida eterna a todos os que lhe deste. Esta é a vida eterna: que conheçam a ti, o Deus único e verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que enviaste” (Jo 17,1-3). E nós estávamos ali em sua oração: “Eu não rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pela palavra deles” (Jo 17,20). A vida plena, eterna, que ele quer para todos, não seja entendida primeiro como extensão, mas antes em qualidade de vida! No meio de todos os embates do cotidiano, já podemos ter a vida plena e eterna, vida verdadeira, se professarmos como a mulher curada por Jesus ou Jairo e sua filha por ele reerguida!

As angústias são passageiras, não porque alguém nos repete que “vai passar”, mas pela certeza da fé que professamos. Depois da Sexta-Feira Santa veio e vem o luminoso dia da Ressurreição, desde já, passando da morte para a vida, quando amamos a Deus e ao próximo. Nós cristãos não temos o direito de parar na dor, choramingando diante dos problemas, mas haveremos de professar nossa fé no Deus da vida!