Reflexão do Evangelho – Lucas 12,32-48
A vigilância é a condição de fé que nos torna capazes de ver a Deus face a face. Implica o repasse (hbr.: hagah) da Lei: o Deus na História de Israel, o homem na condição de pecado, a Redenção, a grandeza do compromisso moral, o destino eterno. É o que motiva a purificação no Sangue de Cristo, pelo cultivo dos dons do Espírito, até amadurecer uma esperança que não será confundida. Quem vive assim está em condições de se encontrar com Deus (Sl 1; 1Jo 3). Quem ama o pecado “nem o viu, nem o conheceu”. É o mesmo conceito de Ap 2-3, onde Jesus exorta ao ardor da caridade, pelas boas obras e o testemunho.
A exortação vem de Jesus, na condição de Filho do Homem. Ap 4 nos diz que é Aquele que está sentado no trono com o aspecto de uma pedra de jaspe e cornalina (algo que diz respeito a Jesus na sua condição gloriosa de Verbo de Deus revestido com um manto embebido de Sangue (Ap 19). É a Glória de Iahweh que, com o Pai, recebe a mesma adoração. O Filho do Homem é, portanto, o Cordeiro imolado que recebeu todo poder de julgar. Vemos que, para a Cidade terrena, é o vingador dos mártires (chegará como um ladrão e exterminará os incautos, enquanto será o Esposo para os que não aceitaram o nome da Besta, pelo contrário, o testemunharam diante do mundo).
A Glória de Iahweh deve ser identificada com o Filho do Homem porque, de fato, é a Glória de Deus que se faz carne, o Adão que realizou os ideais da criatura humana; a sua imolação foi a causa da sua entronização que fez dele a realização da figura do Filho do Homem de Ez 1. É capaz de julgar todo homem porque dele é o Modelo.
Quanto mais o discípulo é chamado a segui-lo sempre mais de perto, tanto maior será a sua responsabilidade.
As prerrogativas do Filho do Homem se apresentam pelos quadros que descrevem a sua ação: Aquele que perdoa os pecados, o Senhor do sábado, o realizador dos tempos messiânicos, anunciado por João Batista, aquele que sobe a Jerusalém para ser entregue aos pagãos e manifestará a sua condição gloriosa pela ressurreição. A sua condição de Juiz é ilustrada pela descrição do juízo final. Aquele que se tornou glorioso pela sua ressurreição, rejeitará os que sujaram suas vestes (Ap 3,1-5). Não comerão dos frutos da árvore da vida que está no Paraíso.
Disso tudo resulta que o fiel e, particularmente o ministro, tem a grave responsabilidade de viver segundo a sua vocação. Seu Modelo é o homem Cristo Jesus. Ainda mais que este se deu em resgate por nós (1Tm 2,5).
Padre Ferdinando Maria Capra pertence à Ordem dos Clérigos de São Paulo (Barnabitas) e serve no Rio de Janeiro (RJ).