Reflexão do Evangelho – João 21,1-19

O Senhor da Igreja

Por Padre Ferdinando Maria Capra, CRSP

Estamos diante dos primeiros dois quadros do epílogo do evangelho de João que querem ilustrar qual é de fato a importância da presença de Jesus na vida da Igreja. A pesca milagrosa reflete o que Jesus já sentenciou quando se proclamou ‘Verdadeira videira’: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15). A nossa cooperação se torna eficaz  somente quando Jesus intervém com a sua determinação. A refeição que Jesus oferece após a pesca é a Eucaristia, o alimento que o Filho do Homem nos deixou como memorial da sua morte redentora, particularmente ilustrada em Jo 6. A ela, apóstolos e discípulos, terão de voltar sempre, para não mais ter fome. (Jo 6,57).

A linguagem simbólica da narrativa apresenta-se de início com o numero sete dos que vão pescar, aludindo à ação daqueles que Jesus chamou para serem pescadores de homens. Volta a se manifestar abertamente quando é lembrado o número de peixes pescados: uma plenitude que somente uma ação divina alcança (50×3).

O Jesus que se apresenta em Jo 21 é aquele que disse aos Apóstolos, no Cenáculo: “Eu voltarei vivo”. É aquele que o Pai glorificou e que, glorificado, tem o poder de “dar a vida eterna àqueles que o Pai lhe deu” (17,1-2). É aquele que Deus constituiu Cabeça da Igreja, porque lhe aprouve que nele estivesse “toda primazia”. É aquele em quem “habita corporalmente a Plenitude da divindade” (Cl 2,9): “O Filho, constituído Senhor com poder segundo o Espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos” (Rm 1,4).

A pesca milagrosa é sinal do poder que ele exerce em favor da sua Igreja. A refeição que ele oferece mostra o que é a Eucaristia.

Este Senhor, que faz de pescadores de peixes pescadores de homens, confia o pastoreio do seu rebanho a Pedro. No que lhe concerne, Pedro exorta os outros pastores dizendo: “Aos anciãos entre vós, exorto eu, ancião como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, participante da glória que está para se revelar. Sede pastores do rebanho de Deus, confiado a vós, cuidai dele, não por coação, mas de coração generoso; não por torpe ganância, mas livremente; não como dominadores da herança a vós confiada, mas antes, como modelos do rebanho. Assim, quando aparecer o pastor dos pastores, recebereis a coroa imperecível da glória” (1Pd 5,1-4).

Nessa 3a teofania, Jesus constitui, na missão de pastor das suas ovelhas, aquele que precisava ter os pés lavados, mas não queria; aquele que queria segui-lo, mas não podia. Agora, na força do Espírito, pelo qual sempre poderá dessedentar-se pela Eucaristia, onde a Palavra, que tem o Espírito sem medida (Jo 3,34) se oferece como alimento e bebida, deve viver a missão de anunciar aquele que o envia e apascentar as ovelhas que o Rei e Pastor (Hb 12,20) lhe confia, tendo Jesus rezado por ele, para que convertido, confirmasse na fé os seus irmãos (Lc 22,31-32).

Pelo Espírito da Verdade foi conduzido à plena verdade, até entender que o serviço é o caminho da realização, assumindo a purificação dos pecados como verdadeira caridade (Juntar à fé a virtude, o conhecimento, o autodomínio, pela perseverança na piedade, no amor fraterno, até viver a perfeita caridade). Trata-se do processo da purificação dos pecados: o da justiça de Deus que se revela da fé para a fé, condição para herdar o Reino de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2Pd 1,5-10). Pedro tem que amar mais que os outros, porque maior é a sua responsabilidade. Pedro ama Jesus. Mas há um discípulo que Jesus ama mais do que a Pedro: aquele que é capaz, porque ama, de entender, pelas Escrituras, o Senhor ressuscitado, o Cristo vivo, a vitória do Filho do Homem sobre o mundo. Todo esse caminho de amor, Pedro terá que percorrer, andando na frente dos outros. 

 

Padre Ferdinando Maria Capra pertence à Ordem dos Clérigos de São Paulo (Barnabitas) e serve no Rio de Janeiro (RJ).