Reflexão do Evangelho – Lucas 20, 19-23

Por Padre Ferdinando Maria Capra, CRSP

A figura do Espírito Santo tem uma primeira apresentação na catequese de João, quando Jesus diz a Nicodemos: “O vento sopra para onde quer, assim é do Espírito”, significando que ele é a força de Deus, capaz de agir sempre segundo novas formas. É Espírito criador que vem com a Palavra, por sua vez criadora, que sai da boca de Deus criador (Gn 1,2). É, com Deus Pai e Jesus Cristo, o Verdadeiro. Quando, então vem a nós, é a Vida Trinitária que faz de nós a sua morada. A ação santificante do Verdadeiro é somente por atribuição que é reconhecida na pessoa do Espírito. Espírito da Verdade conduz os que já se deixaram atrair pelo Pai e deram a sua adesão de fé a Jesus Cristo, à Verdade na sua totalidade, isto é, ao Deus Único, Vida Trinitária. Em relação a si, Jesus diz que “se manifestará àqueles que o amam”. Quando fala do Espírito expressa a mesma verdade, dizendo que os seus discípulos o verão e o conhecerão: isto porque o amam e ele, Jesus, porque se manifesta a eles. A síntese desta doutrina está no fim de 1Jo: “Nós sabemos que veio o Filho de Deus e nos deu inteligência para conhecermos o Verdadeiro. E nós estamos no Verdadeiro, em Jesus Cristo, Vida eterna” (1Jo 5,20).

No dia da ressurreição, Jesus Cristo, constituído Senhor, na condição de Cabeça da Igreja, constituído em poder, a Plenitude que plenifica tudo em todos, comunica aos discípulos, reunidos no Cenáculo, o Espírito Santo, que é o seu Espírito, porque agora, participa da Glória divina, que era sua desde a criação do mundo, também com a sua humanidade. Por isso, para nós, a comunicação do Espírito significa divinização: “Em Cristo, nos tornamos filhos adotivos” (Ef 1,5).

O Espírito é dado para que sejamos conduzidos a toda Verdade, isto é à comunicação plena com a Vida Trinitária: para nos tornarmos do Pai e do Filho e do Espírito. Nesse sentido, somos chamados a uma corresponsabilidade para que aconteça a nossa passagem de Glória em Glória, pela ação de Jesus Cristo, Cabeça da Igreja, que, de alma vivente, se tornou Espírito vivificante.

A filiação divina nos foi concedida como dom gratuito. Mas ela precisa de um desenvolvimento mediante o nosso crescimento em sabedoria, o que não se opera sem a nossa continuada purificação dos pecados, da qual fala 2Pd 1,5-10: devemos juntar à fé a virtude (pelo cultivo dos dons do Espírito); à virtude o conhecimento (permanecendo em Jesus Cristo e por Ele no Pai, pela plena comunicação da linfa vital, que é a vida no Espírito, pela observância dos mandamentos); ao conhecimento, o autodomínio (um dos frutos do Espírito); ao autodomínio, a perseverança (condição da esperança); à perseverança, o amor fraterno; ao amor fraterno, a caridade. É então, como afirma São Pedro, que nos tornamos herdeiros do Reino. De fato, o Espírito ter-se-á tornado o seu penhor, enquanto ter-nos-á tornado morada do Pai e do Filho.

A Igreja precisa desses discípulos para continuar a sua missão, porque ela foi enviada para anunciar a salvação. Encontrará, contudo, a sua credibilidade quando o mundo constatar nos seus membros o amor aos irmãos.

O Espírito vem para operar a transformação das nossas mentes, da ambição, para o serviço; para nos conduzir à compreensão de todo o mistério que se revelou em Jesus Cristo; e para nos levar à observância dos mandamentos de Cristo. Então, a Igreja conseguirá dar testemunho do pecado do mundo, da justificação que Cristo nos mereceu, do julgamento do qual Cristo, constituído em poder, é capaz.

Padre Ferdinando Maria Capra pertence à Ordem dos Clérigos de São Paulo (Barnabitas) e serve no Rio de Janeiro (RJ).