Deus faz novas todas as coisas e concede à sua Igreja, na força do Espírito Santo que a conduz, a perene força de crescimento e renovação. A América Latina e o Caribe deram testemunho recente da perene juventude da Igreja de Cristo, com a realização de sua Primeira Assembleia Eclesial, com preparação e realização participadas por todo o povo de Deus. Se são muitos os motivos de desânimo existentes no mundo, “com Deus tem jeito”, nome dado a uma iniciativa eclesial de grande alcance, já espalhada por todo o Brasil. Com Deus os caminhos novos e diferentes podem ser encontrados, e somos chamados a identificá-los e percorrer as suas sendas. Algumas expressões, como Igreja em saída, Conversão Pastoral, Sinodalidade, já fazem parte de nosso linguajar eclesial, e correspondem ao caminho percorrido pela Igreja nos últimos anos. Ao encontrá-las, nasça a responsabilidade de conhecer mais e praticar, pois é o que o Espírito diz à Igreja neste tempo. Não é desejável e muito menos legítimo que qualquer cristão ignore e despreze os passos que a Igreja dá.

“Nós, membros da Assembleia Eclesial, estivemos reunimos virtualmente e pessoalmente, na sede da Conferência Episcopal Mexicana, de 21 a 28 de novembro de 2021, sob o olhar amoroso de Nossa Senhora de Guadalupe, e queremos cumprimentar o Povo de Deus a caminho, os homens e mulheres da nossa amada América Latina e do Caribe. Estamos unidos pelo desejo de reviver o espírito da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizada em Aparecida em 2007, em sintonia com as Conferências Gerais anteriores e tendo no horizonte o Jubileu Guadalupense em 2031 e o Jubileu da Redenção em 2033. Confessamos que o Cristo Jesus Ressuscitado que nos convocou mais uma vez e, como em Aparecida, nos fez reconhecer como discípulos missionários de seu Reino, nos envia para comunicar, por transbordamento de júbilo, a alegria do encontro com Ele, para que possamos ter uma vida plena Nele (Cf. Documento de Aparecida 14). Assim, Jesus nos acompanha na tarefa empreendida para repensar e relançar a missão evangelizadora nas novas circunstâncias latino-americanas e caribenhas. Uma tarefa que nos comprometeu a uma jornada de conversão que é decididamente missionária, a fim de submeter tudo ao serviço do estabelecimento do Reino da Vida (Cf. Documento de Aparecida 366). Propósito este em que avançamos e que requer maior responsabilidade pastoral. Sonho profético ao qual o Senhor hoje confirma e nos encoraja a viver caminhando juntos, guiados por seu Santo Espírito. Com grande alegria vivemos essa Assembleia como uma verdadeira experiência de sinodalidade, em escuta mútua e no discernimento comunitário do que o Espírito Santo quer dizer à sua Igreja. Caminhamos juntos, reconhecendo nossa diversidade poliédrica, mas acima de tudo, reconhecendo o que nos une, e nesse diálogo, nossos corações como discípulos se voltaram para as realidades que o continente está vivenciando, em suas dores e esperanças. Constatamos e denunciamos a dor dos mais pobres e vulneráveis que enfrentam o flagelo da miséria e da injustiça. Sofremos com o grito da destruição do lar comum e da “cultura do descartável”, que afeta especialmente mulheres, migrantes e refugiados, idosos, povos indígenas e afrodescendentes. Sofremos com o impacto e as consequências da pandemia, que aumenta ainda mais a igualdade social, comprometendo inclusive a segurança alimentar de grande parte da nossa população. Fere o grito daqueles que sofrem por causa do clericalismo e do autoritarismo nas relações, o que leva à exclusão dos leigos, especialmente das mulheres nos casos de discernimento e tomada de decisão na missão da Igreja, constituindo um grande obstáculo à sinodalidade. Também estamos preocupados com a falta de profetismo e com a falta de empenho em uma verdadeira solidariedade com os mais pobres e vulneráveis. Por outro lado, estamos cheios de esperança pela presença dos sinais do Reino de Deus, que nos levam a novos caminhos para a escuta e o discernimento. O caminho Sinodal é um espaço significativo de encontro e abertura para a transformação de estruturas eclesiais e sociais que possibilitam renovar o impulso missionário e a proximidade com os mais pobres e excluídos. Vemos com esperança a Vida Religiosa; mulheres e homens que vivem contra a maré e testemunham a boa nova do Evangelho, bem como a experiência da piedade popular em nossos povos. Essa Assembleia é um kairós, um momento propício para a escuta e discernimento que nos conecta de forma renovada com as orientações pastorais de Aparecida e com o magistério do Papa Francisco, e nos impele a abrir novos caminhos missionários para as periferias geográficas e existenciais e para lugares próprios de uma Igreja em saída. Quais são, então, esses desafios e orientações pastorais que Deus nos chama a assumir com maior urgência? A voz do Espírito Santo ressoou em meio ao diálogo e ao discernimento, apontando-nos vários horizontes que inspiram nossa esperança eclesial: a necessidade de trabalhar para um encontro renovado de todos com Jesus Cristo encarnado na realidade do continente; acompanhar e promover o protagonismo dos jovens; atenção adequada às vítimas de abusos ocorridos em contextos eclesiais e comprometimento com a sua prevenção; a promoção da participação ativa das mulheres nos ministérios e em espaços de discernimento e decisão eclesial. A promoção da vida humana, desde a sua concepção até o seu fim natural; a formação na sinodalidade para erradicar o clericalismo; a promoção da participação dos leigos em espaços de transformação cultural, política, social e eclesial; a escuta e o acompanhamento do clamor dos pobres, excluídos e descartados. A renovação dos programas de formação nos seminários para que assumam a ecologia integral, o valor dos povos indígenas, a inculturação e a interculturalidade, e o pensamento social da Igreja como temas necessários, e tudo o que contribui para a formação adequada da sinodalidade. Renovar à luz da Palavra de Deus e do Vaticano II nosso conceito e experiência do Povo de Deus; reafirmar e dar prioridade à experiência dos sonhos da Querida Amazônia; e acompanhar povos indígenas e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e de suas culturas. Com grande gratidão e alegria reafirmamos nessa Assembleia Eclesial que o caminho para viver a conversão pastoral discernida em Aparecida é o da sinodalidade. A Igreja é sinodal em si mesma, a sinodalidade pertence à sua essência; portanto, não é uma moda passageira ou um lema vazio. Com a sinodalidade estamos aprendendo a caminhar juntos como a Igreja do Povo de Deus, envolvendo todos sem exclusão, na tarefa de comunicar a todos a alegria do Evangelho, como discípulos missionários em saída. O transbordar do poder criativo do Espírito Santo nos convida a continuar discernindo e promovendo os frutos deste evento eclesial sem precedentes para as nossas Igrejas e comunidades locais que peregrinam na América Latina e no Caribe. Comprometemo-nos a continuar no caminho que o Senhor nos aponta, aprendendo e criando as mediações adequadas para gerar as transformações necessárias nas mentalidades, relacionamentos, práticas e estruturas eclesiais (cf. Documento de São Domingos 30). O itinerário pastoral que temos a nossa frente nos guiará no processo de conversão missionária e sinodal. Agradecemos ao Senhor da Vida e a todas as pessoas que tornaram possível a realização dessa Assembleia e as colocamos sob a proteção da Virgem de Guadalupe que acompanha com sua ternura como mãe a caminhada da Igreja neste continente. Confiamos a ela os frutos deste evento eclesial, e pedimos sua intercessão para que com coragem e criatividade possamos nos tornar a Igreja em saída, sinodal e missionária que o Senhor espera de nós, porque somos todos discípulos missionários em saída. Dado na Cidade do México, 27 de novembro, do Ano do Senhor de 2021”.

Também foram apresentados 12 desafios pastorais ao final da Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que assumimos como alegre dever em nossa Igreja de Belém:

(1) Reconhecer e valorizar o protagonismo dos jovens na comunidade eclesial e na sociedade como agentes de transformação; (2) Acompanhar as vítimas das injustiças sociais e eclesiais com processos de reconhecimento e reparação; (3) Impulsionar a participação ativa das mulheres nos ministérios, nas instâncias de governo, de discernimento e decisão eclesial; (4) Promover e defender a dignidade da vida e da pessoa humana desde sua concepção até a morte natural; (5) Incrementar a formação voltada para a sinodalidade a fim de erradicar o clericalismo; (6) Promover a participação dos leigos nos espaços de transformação cultural, política, social e eclesial; (7) Escutar o clamor dos pobres, excluídos e descartados; (8) Reformar os itinerários formativos dos seminários, incluindo temáticas como ecologia integral, povos originários, inculturação e interculturalidade e pensamento social da Igreja; (9) Renovar, à luz da Palavra de Deus e do Vaticano II, nosso conceito e experiência de Igreja povo de Deus, em comunhão com a riqueza de sua ministerialidade, para que se evite o clericalismo e se favoreça a conversão pastoral; (10) Reafirmar e dar prioridade a uma ecologia integral em nossas comunidades, a partir dos quatro sonhos de Querida Amazonia; (11) Propiciar o encontro pessoal com Jesus Cristo encarnado na realidade do continente; (12) Acompanhar os povos originários e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e das culturas.