Grandes ou pequenos países, ou times e seleções, cidades reconhecidas como metrópoles ou pequenas vilas! Gente de grande estatura ou os considerados baixinhos! Grande poderio militar ou fraqueza para enfrentar os agressores. Apetece-nos considerar produtos de nossa terra ou de nossas mãos como os melhores entre todos! E as comparações relativas aos vestidos e à moda, ou a grande competição existente pelo mundo afora. Vivemos continuamente jogados de um lado para outro, no pêndulo da existência, conduzidos a comparações, gestos de vaidade ou orgulho, eventuais traumas e complexos!
Quem é grande ou pequeno? Nossa fé nos conduz a proclamar a grandeza de Deus, e ele se manifesta, como ao profeta Elias, numa brisa suave. Para atuar na história do mundo, escolheu um povo pequeno entre tantos, mas ciente de sua grandeza por ser depositário justamente da experiência do Deus único e verdadeiro, capaz de conduzir pelo deserto uma população inteira, alimentando-lhe a esperança da terra prometida, alcançada entre tantos percalços, para percorrer os séculos ameaçada pelas nações vizinhas e pelas suas próprias infidelidades e conflitos internos. Este povo, vermezinho de Jacó (Cf. Is 41,14), é amado com predileção! Deus escolhe o que é aparentemente insignificante! A grandeza está em ser amado!
Em tempos antigos, assim proclamava um dos cânticos do Servo Sofredor: “Era o mais desprezado e abandonado de todos, homem do sofrimento, experimentado na dor, indivíduo de quem a gente desvia o olhar, repelente, dele nem tomamos conhecimento. Eram na verdade os nossos sofrimentos que ele carregava, eram as nossas dores, que levava às costas. Achávamos que ele era um castigado, ferido por Deus e massacrado. Mas estava sendo traspassado por causa de nossas rebeldias, estava sendo esmagado por nossos pecados. O castigo que teríamos de pagar caiu sobre ele, com os seus ferimentos veio a cura para nós. Como ovelhas estávamos todos perdidos, cada qual ia em frente por seu caminho. Foi então que o Senhor fez cair sobre ele o peso dos pecados de todos nós. Oprimido, ele se rebaixou, nem abriu a boca! Como cordeiro levado ao matadouro ou ovelha diante do tosquiador, ele ficou calado, sem abrir a boca” (Is 53,3-7). E de fato, enviando seu Filho ao mundo, eis como o Apóstolo São Paulo descreve a trajetória de Jesus: “Ele, existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. E encontrado em aspecto humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz! Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome, para que, no Nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua confesse: “Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de Deus Pai (Fl 2,1-11). Tornou-se servo, pequeno e pobre, e por isso todo joelho se dobra diante dele. Este é o grande Senhor em quem acreditamos.
Seus apóstolos e discípulos percorreram a mesma estrada. Simão Pedro, aquele que foi posto como referência para os demais, diante da pesca milagrosa, caiu de joelhos diante de Jesus, dizendo: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!” (Cf. Lc 5,8-11). Pequeno e frágil tornou-se testemunha qualificada da Ressurreição do Senhor, mesmo depois de tê-lo negado três vezes. E nós o vemos representado em sua festa, celebrada nestes dias, com as chaves nas mãos. Até hoje seus sucessores trazem em sua missão o poder das chaves!
Ao seu lado, a Igreja comemora São Paulo, o Apóstolo das Gentes. Seu nome quer dizer “pequeno”, e ele o reconhece em narrativas de sua vocação: “Do evangelho eu fui feito ministro, pelo dom da graça que Deus me concedeu segundo a força de seu poder. A mim, o menor de todos os santos, foi concedida a graça de anunciar a todos a riqueza insondável de Cristo” (Ef 3,7-9). Nas coisas de Deus existe uma inversão total, quando o pequeno e insignificante é feito grande pela graça!
E a Igreja, no seu conjunto, anunciadora e servidora do Reino, vai pelo caminho da pequenez, enfrentando as vicissitudes da história, apanhando de todo lado, mas segura de que as portas do inferno não vão prevalecer. A todos os cristãos se dirige a palavra do Senhor: “Buscai o Reino de Deus e a sua justiça, e essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Não tenhas medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino” (Cf. Lc 12,31-32). O mundo em que vivemos não é mais aquele da cristandade, com de maioria católica. Respiramos a diversidade, com tudo o que pode ter de positivo e de negativo. E a Igreja se torna servidora de todos, testemunha da verdade do Reino de Deus, a Igreja do lava-pés, atenta de modo especial aos mais pobres, sofredores e pecadores.
Quando celebramos os Santos Pedro e Paulo, a Igreja pode oferecer também ao mundo a figura do sucessor de Pedro, no qual também o zelo missionário de Paulo se expressa de modo exemplar em nosso tempo. A grandeza daquele que se faz servo dos servos de Deus, sucessor de Pedro, o Papa Francisco, nos permite ouvir e praticar o que se segue: “Saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (Cf. Evangelii Gaudium, 49).
Oremos neste dia do Papa, pedindo que o Espírito Santo conduza o Papa Francisco em seu grande ministério, no qual se faz pequeno e servidor de todos!