No dia 06 de fevereiro de 1972, eu fui conduzido como Pároco de Nazaré. Padre novo, pároco de Irituia, chegado da Itália fazia apenas dois anos. Eu nunca tinha participado do Círio de Belém (Embora eu tivesse realizado o 1º Círio de Irituia em 1971). Foi um grandíssimo desafio para mim (sem nenhuma experiência pastoral urbana), assumi a Paróquia de Nazaré após o sexênio de pastoral dinâmica e organizada do confrade Padre Miguel Giambelli (mais tarde Bispo de Bragança) e ponto de referência pastoral para as demais paróquias. E sem falar do Círio de Belém que, embora realizado naquele tempo numa forma muito mais modesta, porém sempre exigia do pároco e da dúzia (naquele tempo) de Diretores a devida prudência e competência.

Mas, do Alto vigiavam: Nossa Senhora de Nazaré e a Providência Divina, que sempre acompanharam minha trajetória sacerdotal.

Em maio de 1972 recebi a visita de Padre Daniel Tamassia redentorista, de Goiânia, convidado pelo meu antecessor Padre Vicente Dischiena, como único pregador da quinzena do Círio como vinha acontecendo nos últimos anos, sobretudo pelo Padre Siqueira redentorista, grande pregador popular.

Padre Daniel foi o anjo enviado por Nossa Senhora para orientar um pobre pároco novato e perdido no mare Magnum da maior Romaria mariana do mundo. Padre Daniel, hospedado na Basílica, se trancou no quarto por três dias e redigiu o esquema da Peregrinação que, depois de uma consulta com o Arcebispo Dom Alberto G. Ramos, publiquei oficialmente no Voz de Nazaré da primeira semana de Agosto de 1972, com o título manchete “Preparemos o Círio 72“.

No dia 28 de agosto, todas as 13 Diaconias da paróquia de Nazaré foram convocadas no Colégio Gentil para o treinamento e o lançamento da Peregrinação. A resposta foi surpreendente. O salão maior do colégio ficou lotado de leigos e leigas, adultos e jovens, evangelizadores voluntários que aceitaram o desafio de passar de casa em casa, por um mês, cada grupo levando a Imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Trezentos foram os grupos e as Imagens de Nossa Senhora que circularam por todo o mês de setembro (a partir de 28 de agosto e conclusão 06 de outubro), por todo o território da Paróquia de Nazaré. Cada grupo de peregrinação tinha cinco pessoas responsáveis: Dirigente, Cronista, Rezador do Terço, Leitor da Palavra e Cantor. Naquela altura a Paróquia de Nazaré estava organizada (pela criatividade pastoral de Padre Miguel Giambelli) em três Arquidiaconias A, B e C, cada uma com quatro Diaconias. Isto facilitava a distribuição das Romarias evangelizadoras de casa em casa. Cada reunião iniciava com uma bela e simples oração da dona de casa que acolhia a Imagem e as pessoas participantes. Terminada a reunião, todas as pessoas com velas acessas, conduziam a Imagem em procissão devota para a casa previamente escalada, onde ficava naquela noite e o dia seguinte até a noite. E assim em diante por um mês.

Dia seis de outubro, antes do Círio, todos os grupos com as Imagens voltaram na Basílica onde foram sorteadas as 300 imagens que, nas casas das famílias sorteadas, ficaram como lembrança abençoada da PRIMEIRA PEREGRINAÇÃO da Festa de Nossa Senhora de Nazaré.

A partir daí nos anos seguintes as demais paróquias quiseram repetir a belíssima experiência evangelizadora da Peregrinação. E assim, os grupos e Imagens se multiplicaram a milhares. Nossa Senhora ia à frente e realizava, e continua realizando maravilhas de bênçãos e conversões.

Nossa Senhora como Peregrina vinha ensinando o estilo de uma igreja “em saída”, como Papa Francisco sempre recomenda. Não só os fiéis devotos deixam as casas e se recolhem na Basílica, mas também Maria deixa a sua Basílica e vai visitar as casas e famílias, levando consigo seu filho Jesus.

Naquele ano de 1972, a quinzena da Festa de Nazaré foi prestigiada não mais por um pregador só, mas por sete Padres Redentoristas que, chefiados pelo mesmo Padre Daniel Tamassia, movimentaram pastoralmente toda a Paróquia e as várias pastorais, na Basílica e no Colégio Gentil, o dia todo, do Terço da Alvorada às 05h00 da manhã até a noite com a última Missa das 20h00.

Hoje após 50 anos, é impensável a Festa de Nazaré sem a prévia evangelização de casa em casa (apesar das inacessibilidades dos arranha-céus) que prepara espiritualmente os fiéis ao encontro com Jesus, nosso único Salvador, através da Mãe dEle, Maria Santíssima, pois essa foi, é e será a sua missão na Igreja e para a humanidade.