Aproxima-se o Natal e desejamos oferecer personagens especiais para nosso grande presépio, convidando pessoas envolvidas na realização do grande Mistério da Encarnação do Verbo de Deus e seu nascimento em Belém de Judá, em dias nos quais o Evangelho nos narra os fatos (Cf. Mt 1,18-24).

Muitos séculos antes, no tempo da esperança, quando circunstâncias sociais pareciam conspirar contra o povo de Deus, o profeta Isaías propõe ao Rei Acaz a súplica de um sinal. Se este, com fé vacilante, parece piedoso e humilde ao não ter pretensões de ver um milagre, seu interlocutor quer uma mudança de mentalidade. O homem não pode exigir sinais de Deus, mas pode pedi-los! Trata-se de acreditar num futuro prometido por Deus, e se o Senhor os oferece, é necessário aceitá-los. Deixemos entrar em nosso presépio estas duas figuras, Acaz e Isaías! Há muita gente em crise, pessoas repletas de dúvidas, às vezes pensando ser mais realistas do que os outros, mas sejam também bem-vindas. Tragam seus questionamentos e seus medos. Companheiro será o profeta, corajoso que só! “O próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que a jovem conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel. Ele vai comer coalhada e mel até aprender a rejeitar o mal e escolher o bem” (Is 7,14-15). Como bem sabemos, a jovem que concebeu foi a esposa do rei, e o menino é Ezequias, que assegura a continuidade da dinastia real, malgrado todas as ameaças! Com o Evangelho de São Mateus (Cf. Mt 1,23), nós cristãos entendemos que as palavras proféticas iluminam os acontecimentos correntes e apontam para o futuro, que vem de Deus, quando a Virgem escolhida por Deus dá à luz Jesus, o Cristo, “Deus conosco”!

Nosso presépio dá um salto! Nazaré, Belém, Jerusalém, Recenseamento, burburinho corrente quanto à realização das promessas de Deus. O Evangelho de São Mateus dá muito valor a São José, o encarregado de montar nosso presépio, Um homem justo, homem honrado, inocente quanto ao fato que começava a se manifestar (Cf. Comentários ao capítulo 1 do Evangelho de São Mateus, na Bíblia do Peregrino) A maternidade de Maria não é obra de José, mas do Espírito Santo, De fato, celebram-se, segundo o costume, os esponsais, não o casamento, e não há coabitação precedendo o casamento (Cf. também Gn 21; Gn 25,23-26; Jz 13,3-5). José, parecido o José do Antigo Testamento, recebe em sonhos a revelação do que deve fazer. É garantia de que a iniciativa é de Deus! O nome do Menino, Jesus, a ser dado por quem assume a missão de pai, anuncia que ele deve salvar seu povo dos pecados. Podemos imaginar o turbilhão que se formou na mente daquele homem, com todas as providências a serem tomadas, já que recebeu Maria em sua casa. Dali para frente, se pedimos informações ao Evangelho de São Lucas, houve explicações a serem oferecidas, desconfianças que devem ter corrido soltas pela vilazinha de Nazaré, viagem a preparar, longas distâncias a percorrer, delicadezas com a esposa que viaja grávida, por ação do Espírito Santo, mil perguntas na cabeça, pé na estrada! Presépio cheio de cenas, e podemos enfeitá-lo de muitas formas!

O Evangelho de São Lucas (2,1-20) nos ajuda a compor a cena. José e Maria se dirigem a Belém de Judá, onde não encontram hospedagem adequada. Os arredores da pequena cidade oferecem lugar numa estrebaria. O Menino Deus que nasce é posto a repousar numa manjedoura. Podem entrar em nosso presépio todos aqueles que não encontram pouso pela vida afora. Venham fazer companhia a Jesus os moradores de rua, os mendigos, todos os sofredores! Mas podem vir também as pessoas que talvez tenham casa, mas não têm paz, marcadas pelas angústias e tristezas da vida, geradas pela avalanche de interrogações, divisões e medos de nossa época. Ricos e pobres, basta ter um fiozinho de sensibilidade par acolher o amor que vem de Deus, sejam todos bem vindos!

Nós costumamos colocar imagens dos pastores de Belém, e com eles chegam seus animais, carneiros, cabritos, vacas e bois. O presépio é um bom lugar para se cumprir a antiga profecia: “O lobo, então, será hóspede do cordeiro, o leopardo vai se deitar ao lado do cabrito, o bezerro e o leãozinho pastam juntos, uma criança pequena toca os dois, a ursa e a vaca estarão pastando, suas crias deitadas lado a lado; o leão, assim como o boi, comerá capim. O bebê vai brincar no buraco da cobra venenosa, a criancinha enfia a mão no esconderijo da serpente. Ninguém fará mal, ninguém pensará em prejudicar, na minha santa montanha. Pois a terra estará repleta do conhecimento do Senhor, assim como as águas cobrem o mar” (Is 11,6-9). Sim, queremos aproximar os contrários, para que mesmo os adversários não se sintam inimigos, mas apenas diferentes. Sabemos que estes animais são símbolos de nossas diferenças e do imenso trabalho a ser feito em vista e um mundo unido!

Ao dependurarmos as figuras dos Anjos, sabendo que são portadores da grande alegria, o presépio, lugar de pacificação pela chegada justamente do Príncipe da Paz, seja o espaço de superação do medo (Cf. Lc 2,1-11). Medo dos outros? Medo do futuro? Medo da falta de emprego, trabalho ou dinheiro? Medo das enfermidades ou da morte? A coragem e a fortaleza nos vêm do alto e ao mesmo tempo é responsabilidade nossa: “Vamos a Belém, para ver o que aconteceu, segundo o Senhor nos comunicou. Foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura. Quando o viram, contaram as palavras que lhes tinham sido ditas a respeito do menino. Todos os que ouviram os pastores ficavam admirados com aquilo que contavam” (Lc 2,16-18). Correr com presteza, conferir o que está acontecendo, acender as luzes, ouvir os outros, comunicar a experiência feita! Um roteiro para perder medo da vida e dos acontecimentos! Mais ainda, saber que o Menino é Deus, e de Deus não se tem pavor, pois dele só pode vir o amor!

José preparou a cena do presépio, Maria deve ter sido o enfeite dado pela Providência, com sua delicadeza e pureza, e o Menino que chegou veio para mudar toda a história, pois “o povo que andava na escuridão viu uma grande luz, para os que habitavam as sombras da morte uma luz resplandeceu. Multiplicaste sua alegria, redobraste sua felicidade. Adiante de ti vão felizes, como na alegria da colheita, alegres como se repartissem conquistas de guerra. Pois a canga que lhes pesava ao pescoço, a vara que lhes batia nos ombros, o chicote dos capatazes, tudo quebraste como naquele dia de Madiã. Toda bota que marcha com barulho e a farda que se suja de sangue vão para a fogueira, alimento das chamas. Pois nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado. O poder de governar está nos seus ombros. Seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz” (Is 9,1-5). Tanto é verdade que depois deveremos introduzir em nosso presépio os magos do oriente (Cf. Mt 2,1-12), para ampliá-lo às dimensões do mundo inteiro.

Só nós estamos faltando! Entremos no presépio, trazendo de Belém de Judá para Belém do Pará e para outros tantos lugares a experiência mais decisiva: Deus entre nós! Para expressar tudo isso, quem sabe ainda teremos tempo de construir mais presépios em nossas casas, para introduzir o Menino Deus na Noite Santa de Natal, para que repouse entre nós e sua luz resplandeça!