Nosso horizonte de Igreja tem alguns pontos dados de presente por Deus nestes dias e que pedem reflexão e tomada de decisão. São eles: o dia de oração pelas vocações sacerdotais e religiosas na Festa do Bom Pastor, a Festa de Nossa Senhora de Fátima, neste final de semana, além do dia das mães, no segundo Domingo de maio. Escolhemos conversar com os irmãos e irmãs comunicando a todos a mensagem do Papa para este Domingo (Cf. Mensagem para o Dia Mundial de orações pelas vocações sacerdotais e religiosas do ano de 2019).

O Papa Francisco propõe duas palavras e atitudes que iluminam temas provocantes para todos os que querem levar adiante a vida cristã com seriedade e dignidade. Para ele, todo chamado de Deus nos torna portadores de uma promessa e, ao mesmo tempo, nos pede a coragem de arriscar com ele e por ele. Promessa e risco!

Na cansativa profissão de Pedro e seus companheiros pescadores, em certos dias, a pesca abundante recompensava da árdua fadiga, mas, outras vezes, o trabalho de uma noite inteira não bastava para encher as redes e voltavam cansados e desiludidos. São as situações comuns da vida, onde cada um de nós se confronta com os desejos que traz no coração, se empenha em atividades que possam ser frutuosas, adentrando o “mar” de possibilidades sem conta, à procura da rota certa capaz de satisfazer a sede de felicidade. Algumas vezes é preciso armar-se de coragem para governar um barco sacudido pelas ondas, ou lidar com a frustração de estar com as redes vazias.

E Jesus vai pelo caminho, vê aqueles pescadores e se aproxima. Sucedeu assim com a pessoa escolhida para compartilhar a vida no matrimônio, ou quando se sente o fascínio da vida consagrada: vivemos a surpresa do encontro e, naquele momento, vislumbramos a promessa de uma alegria capaz de saciar a nossa vida. Do mesmo modo, junto do lago da Galileia, Jesus foi ao encontro daqueles pescadores, quebrando a “paralisia da normalidade” (Homilia no XXII Dia Mundial da Vida Consagrada, 2/02/2018). E não tardou a fazer-lhes uma promessa: “Farei de vós pescadores de homens” (Mc 1, 17). Sendo assim, o chamado do Senhor não é uma ingerência de Deus na nossa liberdade; não é uma “jaula” ou um peso que nos é colocado às costas. Ao contrário, é a iniciativa amorosa com que Deus vem ao nosso encontro e nos chama a entrar no grande projeto, do qual nos quer tornar participantes, apresentando-nos o horizonte de um mar mais amplo e duma pesca superabundante, em qualquer opção ou estado de vida.

A vocação é um convite a não ficar parado na praia com as redes na mão, mas seguir Jesus pelo caminho que ele pensou para nós, para a nossa felicidade e para o bem daqueles que nos rodeiam. Abraçar esta promessa requer a coragem de arriscar uma escolha. Para aceitar o chamado do Senhor, é preciso deixar-se envolver totalmente e correr o risco de enfrentar um desafio inédito; é preciso deixar tudo o que nos poderia manter amarrados ao nosso pequeno barco, impedindo-nos de fazer uma escolha definitiva; é-nos pedida a audácia que nos impele com força a descobrir o projeto que Deus tem para a nossa vida. Não podemos ficar consertando nossas redes no barco que nos dá segurança, mas devemos confiar na promessa do Senhor.

Sabemos que nossa vida não é fruto do acaso, mas uma dádiva a filhos amados pelo Senhor, reunidos na grande família da Igreja. É na comunidade eclesial que nasce e se desenvolve a existência cristã, nascida no Batismo, sobretudo por meio da Liturgia que nos introduz na escuta da Palavra de Deus e na graça dos Sacramentos; é nela que somos iniciados na arte da oração e na partilha fraterna. Como nos gera para a vida nova e nos leva a Cristo, a Igreja é nossa mãe; por isso devemos amá-la, mesmo quando vemos em seu rosto as rugas da fragilidade e do pecado, e devemos contribuir para torná-la cada vez mais bela e luminosa, para que possa ser um testemunho do amor de Deus no mundo.

A vida cristã encontra a sua expressão naquelas opções que, enquanto conferem uma direção concreta à nossa navegação, contribuem também para o crescimento do Reino de Deus na sociedade. Podemos pensar na opção de se casarem Cristo e formar uma família, e aqui entram as mães no dia que lhes é consagrado, bem como nas outras vocações ligadas ao mundo do trabalho e das profissões, no compromisso no campo da caridade e da solidariedade, nas responsabilidades sociais e políticas. Trata-se de vocações que nos tornam portadores duma promessa de bem, amor e justiça, não só para nós mesmos, mas também nos contextos sociais e culturais em que vivemos, que precisam de cristãos corajosos e testemunhas autênticas do Reino de Deus.

No encontro com o Senhor, alguém pode sentir o fascínio do chamado à vida consagrada ou ao sacerdócio ordenado. É uma descoberta que entusiasma e, ao mesmo tempo, assusta, sentindo-se chamado a tornar-se pescador de homens no barco da Igreja através da oferta total de si mesmo e do compromisso do serviço fiel ao Evangelho e aos irmãos. Esta escolha inclui o risco de deixar tudo para seguir o Senhor e de consagrar-se completamente a ele para colaborar na sua obra. Muitas resistências interiores podem dificultar tal decisão, mas também, em certos contextos onde não parece haver lugar para Deus e o Evangelho, pode-se desanimar e cair no “cansaço da esperança” (Homilia na Missa com sacerdotes, pessoas consagradas e movimentos laicais, Panamá, 26/I/2019). Todavia, não há alegria maior do que arriscar a vida pelo Senhor! Há necessidade de proporcionar, sobretudo aos jovens, ocasiões de escuta e discernimento, inclusive com uma pastoral juvenil e vocacional que ajude a descobrir o projeto de Deus, especialmente através da oração, meditação da Palavra de Deus, adoração eucarística e direção espiritual.

Modelo e referência para a descoberta e amadurecimento das diversas vocações é a Virgem Maria. Virgem, prometida em casamento, esposa virginal, mãe, pronta para responder ao chamado de Deus, da Anunciação, passando pelo discipulado com seu Filho, para chegar à Cruz, à Ressurreição e ao Pentecostes, para acompanhar a Igreja com seu exemplo e oração. Ela “passa na frente”, como a contemplamos tomando a iniciativa com os pastorinhos de Fátima, chamando-os e consagrando-os a Deus, fazendo daqueles pequeninos apóstolos da oração e da penitência, “coisa de gente grande”, confiando justamente a quem estava no início da caminhada nesta terra, tarefas e responsabilidades tão grandes, para que ninguém tenha receio de dar a própria resposta!