Reflexão do Evangelho – Mateus 1,1-16.18-23

Natividade de Nossa Senhora

O evangelho de Mateus abre-se dessa forma: “Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1,1). O que está escrito no Livro (Sl 87,6; Ap 20,12), que o Filho diz ao Pai, ao entrar no mundo?: “… me deste um corpo. Por isso, eis que venho, para fazer a tua vontade” (Hb 10,5-10: Sl 40,7-9). Pela genealogia que remonta de Abraão até Adão, entendemos que em Jesus se realiza a figura da Descendência prometida, pela qual Deus resgatará o homem da miséria na qual mergulhou por causa da sua rebeldia. O homem Cristo Jesus é, portanto, a realização de Is 7,14. O “filho da virgem”, ao qual dar-se-á o nome de Emanuel. Por causa disso, Mt 1,18 assim descreve a vinda ao mundo do Filho de Deus: aquele que declarará a sua condição divina, desde o seu primeiro discurso, dos cinco que pautam o evangelho de Mateus. Aqui, porém, Mateus logo declara que o Cristo de Deus é Jesus (Ieshuah= Iahwheh é Salvação): “A origem de Jesus foi assim: Maria, sua mãe, desposada a José, antes que coabitassem, achou-se grávida por obra do Espírito Santo” (Mt 1,18). Na festa de hoje, a pessoa histórica de Maria é lembrada por tudo aquilo que lhe aconteceu, a ponto de ser, por nós, exaltada pela importância da sua vocação à maternidade divina. O dogma da sua imaculada conceição, proclamado por Pio IX (1854), é o começo da sua glorificação, justificado pelas palavras que encontramos na oração inicial da solenidade da Imaculada Conceição: “Para que fosse digna habitação do seu Filho”. Notamos, logo, que a grandeza de Maria nos dignifica como membros da Igreja, sobretudo se lembramos quanto nos dignifica o “homem Cristo Jesus” no momento em que, “no terceiro dia” volta para buscar o seu corpo para transfigurá-lo pela sua ressurreição. A resposta de Maria à ação do Espírito Santo, que cada fiel pode dar quando lembra o seu batismo, que, pela fé, esperança e caridade o configura a Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei, é o começo da evolução da sua santificação, como bem lembra Jesus quando exclama: “Quem é minha mãe e quem são os meus irmãos? Aquele que ouve a minha palavra e a põe em prática, esse é para mim a mãe, e irmão e irmã” (Mt 12,48-50).

Foi exatamente aquilo que Maria declarou que estava começando a fazer quando disse ao Anjo: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Com isso, vemos que a santificação se distingue, em grau, em cada fiel, pela obediência; exatamente, na condição de servo. O máximo da perfeição é alcançado por Jesus, o Filho que, assumindo a condição de Servo, feito obediente até a morte de cruz, mereceu receber o nome de “Senhor”. Maria é a serva que, enquanto contempla o seu Filho realizar-se, pelo sacrifício da cruz, do qual ela participa, na “fé, esperança e caridade”, “aos pés da cruz”, chega a reinar com ele, até alcançar a condição de se tornar “Mãe da Igreja”.

Na oração “Santa Maria, Mãe de Deus”, reconheçamos o modelo da discípula de Jesus. Imitemo-la, na fé e na docilidade ao Espírito Santo, em produzir muitos frutos; no testemunho, na piedade e no amor fraterno, enquanto vive o martírio do Filho aos pés da cruz, repleta de caridade.

Padre Ferdinando Maria Capra pertence à Ordem dos Clérigos Regulares de São Paulo (Barnabitas) e serve no Rio de Janeiro (RJ).