João 13,1-15

 

Em João 13,1 lemos: “Jesus sabia que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai”. A sua explicação está em João 12,36: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado”. Como pode se tornar glorificação uma morte tão ignominiosa como aquela de uma cruz? A resposta é: enquanto é manifestação suprema de amor, como encontramos em João 15, quando Jesus declara: “Não tem maior amor daquele de dar a vida pelas pessoas que se ama”. Para ilustrar o seu amor, que lhe merecerá a glorificação, o sinaliza com o gesto do lava-pés. Enquanto, todavia, pelo lava-pés mostra que ele é o Filho do Homem que veio não para ser servido, mas para servir, será pela sua morte de Cruz que revelará a todos o seu amor, dando a vida “em resgate de muitos”. Dessa forma, toma pleno sentido o hino cristológico de Paulo em Efésios 2,6-11: “Cristo Jesus, embora de condição divina, não reteve ciosamente para si o de ser igual a Deus, mas humilhou-se assumindo a condição de escravo, feito obediente até a morte e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou, dando-lhe um nome acima de todo nome”.

Ao instituir a Eucaristia, na Última Ceia, Jesus, nela, nos oferece a celebração da sua glorificação, pela qual se torna para nós Mestre e Guia, enquanto, pela graça do sacramento, cria em nós a condição para segui-lo como seus discípulos.

Ao longo da Quaresma, tivemos a oportunidade de ler sobre a multiplicação dos pães, explicação catequética oportuna para valorizarmos ainda mais aquilo que Jesus instituiu na Última Ceia.

João 6 retoma a narrativa dos sinópticos e, a partir dela, nos apresenta a doutrina sobre o Memorial que Jesus nos deixou da sua Morte. A Eucaristia é “a sua carne entregue para a vida do mundo” (João 6,51b). Isto significa que, ao homem morto devido aos seus pecados, Jesus dá a sua carne oferecida em sacrifício sobre a cruz, para que, entrando em comunhão com Ele, volte à vida.

Não se trata de uma simples ressurreição corporal, qual se deu com Lázaro, e sim, de uma condição de imortalidade, fundamentada na ação do Espírito Santo que, além de nos tornar “filhos adotivos em Jesus Cristo” (Efésios 1,5), se torna princípio da nossa glorificação pela própria ressurreição na carne.

É para alcançar os frutos deste alimento que devemos trabalhar, considerando todos os seus aspectos e pondo-os em prática. “Não foi Moisés, diz Jesus aos judeus, que vos deu o pão descido do céu. O verdadeiro pão é aquele que desce do céu e dá a vida ao mundo”. A nossa resposta é aquela jaculatória com a qual os que, naquele momento, deram a sua adesão de fé a Jesus, exclamaram: “Senhor dá-nos sempre deste pão”! A expectativa de Jesus é que nós vamos a ele para viver os ideais que o seu memorial nos apresenta, com as seguintes disposições: 1) reconhecendo nele, aquele que único pode subir ao céu porque é Aquele que desceu do céu; 2ª) reconhecendo que ele é do alto, enquanto nós somos os daqui de baixo; 3ª) Fundamentados nos sinais que ele nos deu, reconhecendo que Jesus é aquele que veio de junto de Deus e conhece o Pai.

A peroração final da catequese de João 6 torna-se, então, a nossa motivação: “Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por meio do Pai, assim aquele que de mim se alimenta viverá por meio de mim” (João 6,57).