Quinto domingo da Quaresma – Ano C

            João 8,1-11                     A mulher surpreendida em adultério

 

Através da figura do filho pródigo (4º domingo da Quaresma, Ano C), tomamos conhecimento da condição de miséria moral que pode nos atingir. Ao mesmo tempo, tomamos conhecimento dos sentimentos de misericórdia que estão em Deus, nosso Criador. Ele não quer a nossa morte, mas que, perdoados, vivamos.

Cristo Jesus é o fundamento dessa nossa confiança porque ele é o nosso Redentor, segundo tudo aquilo que aprendemos pelos ensinamentos da Transfiguração (2º domingo da Quaresma). A nossa confiança cresce ainda mais quando nos lembramos de que aquele que não condena a  mulher surpreendida em adultério é o Filho do Homem, nosso Mestre e Guia, que, tentado pelo diabo, no deserto (1º domingo da Quaresma), Vencedor, tornou-se “Primogênito dos mortos, Senhor da Igreja”, pronto a nos purificar de todo pecado, em virtude da sua Morte redentora.

Pelas palavras que Jesus dirige à mulher, entendemos qual é a nossa responsabilidade: “Vá e não peques mais”. Ensinados pelos sentimentos que levam o filho pródigo a voltar à casa do Pai, porque é lá que, até na condição de servo, ele terá condições de vida, saberemos, afinal, quais são os verdadeiros valores que nos realizam e como apreciá-los. Estaremos numa condição melhor daquela em que vivia, fossilizado, o filho mais velho.

Por tudo isto, compreendemos qual é a  pedagogia de Deus, que, surpreendentemente, permite a nossa culpa. Por ela, segundo a sua sabedoria e o seu poder, chegamos a ter os entendimentos adequados, em relação ao gratuito divino, manifestado pela nossa redenção e os sentimentos mais puros de alegria, ao constatar como em nós se realizou, afinal, a manifestação da glória de Deus, na sua plenitude.

A nossa compreensão da pessoa do nosso Mestre e Guia torna-se ainda mais plena se temos presente tudo aquilo que Jesus nos ensina, após ter nos mostrado qual é o Desígnio de Deus, seja pela parábola do filho pródigo como pelo gesto misericordioso em relação à mulher pecadora, sobretudo porque ninguém teve a coragem de lançar, contra ela, a primeira pedra. Ao longo de Jo 8, do qual a perícope de hoje é a abertura, Jesus nos convida a reconhecer nele a “Luz do mundo”, porque ele é o “Eu sou” que existe desde sempre (Jo 8,58). Temos, portanto, que acatar os seus ensinamentos porque é somente “aquele que o segue que terá a luz da vida” (v.12).

O compromisso daquele que, perdoado, não quer mais voltar ao pecado, é de guardar os mandamentos do Pai, que Jesus nos dita. Tornados, desse modo, conhecedores da Verdade, pelo processo ascético da purificação, que 2Pd 1,5-7 nos apresenta, saindo das trevas do erro, reinaremos com Cristo Jesus (João 8,31-32).

Texto: Padre Ferdinando Maria Capra, CRSP