Na história da espiritualidade Barnabítica temos o júbilo de saber que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus se fez presente, Padre Antônio Maria Gentili, exímio religioso e intelectual Barnabita, disse: “A- devoção ao Sagrado Coração constitui-se um dos capítulos mais importantes de nossa espiritualidade” (I Barnabiti, pág.379).
Vemos uma centelha desta devoção no seio de nossa Ordem religiosa, na vida do Irmão Ludovico Maria Bitoz, o qual se narra que por seis anos teve êxtases espirituais, via brotar do costado de Cristo seu preciosíssimo sangue. Em muitas casas antigas de nossa família religiosa se vê quadros que retratam tal fato.
O Barnabita Dom Raimundo Maria Recrosio (1657-1782), Bispo de Niza (França), foi confessor no Mosteiro da Visitação nos anos em que eram muito vivas as memórias das revelações experimentadas por Margarida Maria Alacoque em Paray-le-Monail (1675). Tais revelações místicas cativaram-no, fazendo-o estar entre os primeiros a propagar o culto ao Sagrado Coração. Do coração do ilustre confrade temos essa bela oração: “O Sagrado Coração de Jesus é fonte de graça; Dele hão de ter brotado todos os sacramentos; Dele nasceu a Igreja… ó Senhor, Tu que tens em tuas mãos o coração dos homens, forma o meu segundo o Teu, esvazia-o do mundo, enche-o de Ti”.
Entre os estudantes Barnabitas do século XVIII, temos o jovem Giovanni Percoto, que cativado pela devoção, empenhou-se em formar um grupo cujo objetivo era insuflar amor ao Sagrado Coração, especialmente no Santíssimo Sacramento. Para dar solidez à iniciativa, escreveu um livreto explicando os fundamentos desta devoção. A obra foi revisada pelos Barnabitas Gian Francesco Maria Marinoni e Giuseppe Maria Rusca, este último depois se tornou o teólogo do Papa Benedito XIV. O livro, intitulado “Devoção ao Coração de Jesus”, foi publicado em Bolonha no ano de 1752.
Em uma de suas cartas, o estudante Percoto escreveu: “A paz que desfrutam os verdadeiros religiosos ultrapassa todo sentimento […] Busquemos, pois, paz no docíssimo Coração de Jesus, amor ardente, numa adoração constante deste docíssimo Coração. Quão feliz serás, progredindo nesta excelente prática. Como agradecerás a Deus por haver se entregado a ela. Tu gozarás desta na vida e na hora da morte”.
Os esforços do jovem estudante Barnabita ajudaram a fortalecer ainda mais a difusão a esta devoção em nossa Ordem religiosa. Prova disso foi a introdução da festa do Sagrado Coração em nossa casa de formação Santo Alexandre.
Outros Barnabitas ajudaram a zelar pela devoção ao Sagrado Coração, também fora dos muros de suas casas. No século XVIII surgiram, por exemplo, os jansenianos. Estes rechaçavam tal devoção, pois acreditavam que ela tendia a propor a adoração ao puro músculo que forma o coração. O Sínodo de Pistoia, de 1786, inclinou-se a esta heresia.
A reposta não tardou a chegar. No pontificado de Pio VI, com a bula Auctorem fidei (28 de agosto de 1794), o sumo Pontífice rejeitava claramente tal postura. Tal documento foi inspirado e redigido pelo Barnabita Sconfitti Maria Gerdil, teólogo que trabalhou ao lado do sumo Pontífice reinante. Nesse período, temos também na luta contra a mencionada heresia os Barnabitas Angelo Maria Cortenovis e o cardeal Luigi Maria Lambruschini.
Em 1844, nasceu no estudantado dos jesuítas o Apostolado da Oração. Com a supressão de muitas comunidades da Companhia de Jesus em terras italianas, à causa de conflitos religiosos, os Barnabitas assumiram a missão de levar adiante a referida ação. Nesse campo, temos o Padre Donato Maria Maresca, que no século XIX foi incansável propagador da devoção.
Em Parma, Padre Maresca propagou na Igreja que estava aos cuidados dos Barnabitas a devoção ao Sagrado Coração. Ele foi um grande entusiasta, lutou para que a Itália fosse consagrada ao Sagrado Coração e motivou os leigos e os padres das diversas dioceses a exortarem seus bispos a consagrarem suas regiões ao Sagrado Coração. Sobre isso, certa vez escreveu: “Confiamos que chegará o dia em que os católicos italianos, com mais brilho e energia, imitarão o exemplo que lhes deu a Bélgica católica”. Seus esforços foram horados, pois entre 1871 e 1875, paulatinamente, muitas dioceses italianas foram se consagrando ao Sagrado Coração.
Nesse mesmo período, nossa Ordem religiosa também se consagrou ao Sagrado Coração. No dia 08 de dezembro de 1871, o Padre Giuseppe Maria Albini, Superior Geral, envia uma carta circular às comunidades barnabíticas tratando sobre isso. No dia 14 de janeiro de 1872, na Paróquia São Carlos Borromeu, construída e dirigida por nossa Ordem em Roma, em ato solene diante do Santíssimo sacramento, o Padre Preposto Geral pronuncia o ato de consagração, em seguida se canta o Te Deum. Todas as casas dos Barnabitas se uniram a esse ato de piedosa consagração.
O Apostolado da Oração, desde sua gênese esteve vinculado ao Apostolado dos Jesuítas, entretanto, em 1879, esse passou a ser dirigido pelos Barnabitas. Sua sede foi instalada na Igreja de São Carlos Borromeu, Roma. Na ocasião, solenizaram a instalação da nova sede com três dias de festa, de 13 a 16 de novembro, e aí se instalou o oficio dos “Mensageiros do Sagrado Coração”.
O Barnabita Padre Vitale, sucessor de Padre Maresca na condução do Apostolado da Oração na Itália, foi um dedicado diretor da obra. Com sua morte, os Jesuítas reassumem a direção dessa missão em terras italianas. Os Barnabitas devolvem o Apostolado da Oração à Companhia de Jesus com três milhões de inscritos, entre estes, um número expressivo de jovens devotos. A obra mudou de direção, porém sua chama continuou acesa em nossa Ordem religiosa.
No Brasil, deixamos muitas marcas do supracitado. Nossa paróquia é exemplo disso. Em Belém do Pará, desde 1905 os Barnabitas atuam na Basílica de Nazaré. Nesse templo, imortalizaram essa devoção tão cara aos filhos de Santo Antônio Maria, no vitral que fica do lado esquerdo do presbitério, esse venerado por expressiva quantidade de fiéis que buscam consolo espiritual na Basílica. Além disso, em 1958, funda-se nessa paróquia uma comunidade dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, berço de muitas iniciativas pastorais que abrilhantam nossa presença na Cidade das Mangueiras.
Em conclusão, no correr dos anos, a providência Divina permitiu que se cruzasse nossa história com a devoção ao Sagrado Coração, e esta tem dado a nossa família religiosa um toque indelével de amor e redenção. Que ao contemplar o Sacratíssimo Coração de Jesus, o coração de cada Barnabita seja moldado segundo o coração de nosso Redentor.
Por: Padre Francisco Maria Cavalcante