No final da Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa recordou o Dia Internacional da Memória. Fez um apelo às famílias e educadores: “Promover nas novas gerações a consciência do horror desta página escura da história”.
“Essa crueldade indescritível não deve mais se repetir.” Francisco pontua bem as sílabas como se quisesse marcar na mente e no coração, das novas gerações, em que os males do racismo e do antissemitismo retornam novamente, a dor para todas as vítimas do Holocausto.
No final da Audiência Geral desta quarta-feira (26/01), o Papa Francisco recordou o Dia Internacional da Memória, celebrado na quinta-feira, 27 de janeiro, no 76º aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, símbolo da Shoah que destruiu a vida de milhões de pessoas e famílias.
“É necessário lembrar o extermínio de milhões de judeus e pessoas de diferentes nacionalidades e religiões. Essa crueldade indescritível não deve mais se repetir.”
O apelo aos educadores e famílias
O Papa dirigiu-se a todos, em particular “aos educadores e famílias, para que promovam nas novas gerações a consciência do horror desta página escura da história”. Uma advertência a manter viva a atenção para esse fato horrível também no futuro, para que não seja ofuscado quando as últimas testemunhas não mais existirem. “Que esta crueldade nunca seja esquecida”, disse o Pontífice, “para se possa construir um futuro em que a dignidade humana nunca mais seja pisoteada”.
O abraço a Lídia, sobrevivente de Auschwitz
O apelo tornou-se um abraço no final da audiência, quando o Papa, sentado numa cadeira ao pé da escadaria da Sala Paulo VI, cumprimentou Lídia Maksymowicz, polonesa de origem bielorrussa, que foi para Auschwitz – Campo de concentração de Birkenau aos 3 anos com sua mãe, perdida e depois encontrada na idade adulta na Rússia. O encontro entre o Papa e Lídia, testemunha ainda viva das atrocidades dos campos de concentração e das experiências do doutor Josef Mengele, é o segundo encontro. Em 26 de maio de 2021, no final de uma Audiência Geral no pátio de São Dâmaso, Lídia saudou Francisco que se abaixou para beijar o número tatuado em seu braço, após 77 anos, do horror vivido: “70072”. “O beijo do Santo Padre me fortaleceu e me reconciliou com o mundo”, disse Maksymowicz numa entrevista ao Vatican News logo após a audiência. Nesta quarta-feira, Francisco acariciou a tatuagem no braço de Lídia, que levou alguns presentes ao pontífice, dentre os quais o livro sobre a sua vida “A menina que não sabia odiar”, recentemente impresso por Solferino, e uma fotografia impressa em tela de um encontro com João Paulo II, a quem a sobrevivente disse ser muito devota.
“Uma terrível tragédia”
Também no ano passado, recordando no Angelus “esta terrível tragédia”, o Papa disse: “A indiferença não é admissível e a memória é um dever”. Francisco convidou os fiéis a rezar, “dizendo cada um em seu coração: nunca mais”.
O silêncio no abismo de Auschwitz
Aquele “nunca mais” que, embora silenciado em favor de um silêncio mais eloquente do que cada frase ou discurso, transpareceu dos gestos feitos pelo Papa em sua peregrinação de dor ao abismo de Auschwitz-Birkenau, durante a viagem de 2016 à Polônia. Entre orações diante do muro das execuções ou na cela onde São Maximiliano Kolbe passou os últimos momentos de sua vida, entre abraços com os sobreviventes e caminhada com a cabeça baixa entre os memoriais de mármore, nenhuma palavra saiu da boca de Francisco. Apenas uma oração estava na alma do Papa, a mesma que ele deixou escrita em espanhol no Livro de Honra do campo de extermínio:
“Senhor, tem piedade do seu povo. Senhor, perdão por tanta crueldade!”