A celebração do Mistério Pascal de Cristo ecoa na Igreja como ondas da graça divina em todo tempo, mas algumas dimensões da vida cristã são anualmente propostas à celebração e à genuína piedade do Povo de Deus. Nestes dias celebramos a Santíssima Trindade, celebraremos também, dentro de poucas semanas, a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, e agora voltamos nosso olhar da fé para o Corpo e Sangue de Jesus, na solenidade chamada “Corpus Christi”, cada ano comemorada após a Festa da Trindade. Consideramos uma bela oportunidade para aprofundar nosso conhecimento e nossa vivência da Eucaristia.
Sabemos que “para realizar sua obra, Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do ministro, pois aquele que se oferece agora pelo ministério sacerdotal é o mesmo que se ofereceu na Cruz, quer e sobretudo sob as espécies eucarísticas. Está presente com o seu dinamismo nos Sacramentos, de modo que, quando alguém batiza, é o próprio Cristo que batiza. Está presente na sua palavra, pois é ele que fala quando a Sagrada Escritura é lida na Igreja. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta, ele que prometeu: Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18,20) (Cf. Sacrosanctum Concilium – SC, 7).
E o Concílio Vaticano II ensina que a Liturgia impele os fiéis, saciados pelos mistérios pascais, a viverem unidos no amor; pede que sejam fiéis na vida a quanto receberam pela fé e pela renovação da aliança do Senhor com os homens na Eucaristia, e aquece os fiéis na caridade urgente de Cristo. Da Liturgia, pois, em especial da Eucaristia, corre sobre nós, como de sua fonte, a graça, e por meio dela conseguem os homens com total eficácia a santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam, como a seu fim, todas as outras obras da Igreja. Para assegurar esta eficácia plena, é necessário, porém, que os fiéis celebrem a Liturgia com retidão de espírito, unam a sua mente às palavras que pronunciam, cooperem com a graça de Deus, não aconteça de a receberem em vão. Por conseguinte, devem os pastores de almas vigiar para que não só se observem, na ação litúrgica, as leis que regulam a celebração válida e lícita, mas também que os fiéis participem nela consciente, ativa e frutuosamente (Cf. SC 10 e11).
De todas as partes no mundo, pela voz da Igreja continua vivo o apelo justamente à participação na liturgia, especialmente na Eucaristia, de forma consciente, ativa e piedosa. É tempo de superar o perigo da dispersão, suscitado pelas circunstâncias atuais. O retorno às celebrações presenciais é fundamental para nossa vida cristã, pois fomos chamados a participar do único Pão, Corpo de Cristo, formando nele e com ele um único Corpo Místico com todos os irmãos e irmãs. E o convite da Igreja provoca em nós o desejo de estarmos sempre preparados e dispostos a viver os frutos da Eucaristia em nosso dia a dia.
Para participar da Eucaristia, é necessário acreditar na doutrina de Cristo, ser batizado, viver segundo os ensinamentos de Cristo, arrepender-se e confessar os próprios pecados para se aproximar dela com o coração puro, reconciliar-se com os irmãos com os quais não estivesse em paz, estar em unidade com a Igreja, com o Bispo e desejar aquela união com Cristo e com os irmãos que a Eucaristia realiza (Cf. Chiara Lubich, “A Eucaristia”, Cidade Nova, São Paulo, 1977, páginas 91 e 92).
A participação na Eucaristia deve ser consciente! Há de brotar, então, em nossas Paróquias e Comunidades o trabalho pela Iniciação Cristã, de forma que os Sacramentos que a expressam, Batismo, Confirmação e Eucaristia, sejam adequadamente preparados e celebrados. O caminho a ser percorrido pela Catequese torna-se primordial em toda a Igreja. Saber o que vivemos, ter clareza a respeito do “Mistério da Fé” que proclamamos e do qual participamos. Para tanto, como fizemos nesta reflexão, são abundantes e ricos de conteúdo os ensinamentos da Igreja.
Participação ativa na celebração eucarística significa que cada pessoa deve fazer o que lhe cabe de forma transparente, e apenas o que lhe cabe. Não é menos importante a presença na Assembleia do que os serviços a ela prestados pelos ministros, começando por aquele que a preside. Daí o valor atualmente conferido ao ministério da acolhida, assim como a adequação dos espaços litúrgicos em nossas igrejas, para que todos sejam envolvidos.
A participação deve ser piedosa, acompanhando cada gesto, palavra, movimento e ação na liturgia. A piedade significa ter um coração bom e aberto a tudo o que a Igreja oferece. Não é menos piedoso estar de olhos abertos e ficar em pé do que a outra pessoa de olhos fechados, ajoelhada ou prostrada. Tudo tem o seu lugar e pede envolvimento de alma, corpo e coração!
Participação frutuosa exige a prática na vida daquilo que celebramos na liturgia. Um bom caminho pode ser assumir a cada domingo um compromisso de serviço e caridade, especialmente com os mais pobres e sofredores. Aliás, cada pessoa deveria encontrar o seu modo de dedicar-se à caridade, pois são complementares as ações de todos nós, sabendo que Deus tudo valoriza e reconhece.
Receber o Corpo e o Sangue do Senhor nos compromete a ser verdadeiros portadores de Cristo, onde quer que nos encontremos. Neste ano, se estamos impedidos pelas normas de saúde pública de fazer nossas lindas procissões, nós mesmos seremos a procissão viva, saindo pelas nossas cidades a espalhar o dom de vida do Cristo a cada um de nós, com a consciência de que muitas pessoas não terão a oportunidade de comungar, mas consumirão nosso tempo, nossa dedicação e nossos gestos de amor. Nosso mundo tem sede Comunhão, tem sede de Cristo Eucarístico, tem sede da presença ativa, consciente e frutuosa dos que recebem a graça da Eucaristia!