Semana 48: 28 de novembro de 2019
A Igreja é chamada a viver a santa inquietação pela chegada do Reino de Deus, pois o seu tempo é o da esperança. Faz parte de seu dinamismo de vida a magnífica tensão existente entre a Morte, Ressurreição, Ascensão do Senhor com o envio do Espírito Santo no Pentecostes e a prometida vinda do Senhor no fim dos tempos. A cada Celebração Eucarística a Igreja clama confiante: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!” Sua ação pastoral se sustenta em uma espiritualidade baseada na escuta da Palavra de Deus e no grito do seu povo, para poder anunciar a Boa Nova com espírito profético. Reconhecemos que a Igreja que escuta o grito do Espírito no grito da Amazônia pode apropriar-se das alegrias e esperanças, da tristeza e da angústia de todos, mas sobretudo dos mais pobres (Cf. Gaudium et Spes 1), que são os filhos e filhas prediletos de Deus. Descobrimos que as poderosas águas do Espírito, simbolizadas para nós pelas águas do Rio Amazonas, que transbordam periodicamente, nos levam a essa vida em abundância que Deus nos oferece para partilhar no anúncio de seu Reino (Cf. Documento final do Sínodo para a Pan-Amazônia, número 38). Vivemos o Tempo do Espírito, anunciando e apressando o dia da vinda do Senhor. Sim, aqui mesmo, estamos preparando o tempo de plenitude!
A cada ano litúrgico, repassamos, encontrados mais adiantados na vida cristã, como uma espiral crescente para o alto, os acontecimentos da história da Salvação. O Ciclo do Natal, que iniciamos neste Primeiro Domingo do Advento, abre-nos para as promessas realizadas e cumpridas por Deus, conduz-nos à aproximação dos fatos que precederam o Nascimento do Menino Deus, e depois faz-nos aprofundar as consequências para a vida cristã, no Tempo do Natal e da Epifania. O ponto de partida é a gratuidade do dom de Deus.
Antes de irmos a ele, é o próprio Deus que se adianta e vem a nós. Assim proclama o Profeta: “Vamos conhecer, procuremos o conhecimento do Senhor, sua chegada é tão certa como o dia de amanhã, ele virá como vêm as primeiras chuvas, como a chuvarada que encharca a terra” (Os 6, 3). E assim podemos cantar: “Certa como aurora é a tua vinda, virás como a chuva que fecunda a terra. Se alegram as estrelas quando estás entre nós, o ouro perto de ti até parece areia. Que poderei fazer por ti? Que poderei fazer? O teu amor me renova como o orvalho da manhã. Em tuas mãos está a terra, o cume dos montes e o mar, Casa e fortaleza teu coração é para nós. A minha esperança está em ti, minha alegria em ti. Nada me pode separar do teu imenso amor” (Conjunto Gen Verde).
É certa a sua vinda! Ele nos ama por primeiro e qualquer ato de fé feito pelas pessoas é sempre precedido por Deus, é sempre uma resposta ao seu ato criador e salvador. O cristão edifica a sua vida no louvor e na ação de graças pelo que Deus é e faz, para depois responder, indo ao encontro de todos os dons recebidos, comprometendo-se a viver no amor a Deus e ao próximo. Assim participa de um maravilhoso encontro de liberdades. Deus na frente, seguido da resposta humana!
Reconhecimento! Quem professa a fé aprende a fazer memória das maravilhas de Deus operadas na história da salvação. Abrir os olhos para a maravilha da criação e todos os dons que foram concedidos à humanidade. Podemos fazê-lo recolhendo as lições que os livros do Antigo Testamento nos oferecem. É bom contemplar com gratidão a escolha que Deus fez de um povo, chamado a ser sinal para toda a humanidade. Que se reconheça a atuação de Deus, gratuita e misericordiosa, mesmo diante de um povo de cabeça dura. Entendamos que a história do Povo de Deus não foi linear, de sua parte, mas carregada de infidelidades, desistências, fugas, passos errados no relacionamento com outros povos. Entretanto, foi o Senhor que continuamente retomou a história de amor e salvação, como Deus fiel!
Mãos à obra! Se tamanho é o amor de Deus, sua graça nos dá a força para corresponder a ele. Assumir os valores do Evangelho, como a verdade, a justiça, a dignidade das pessoas, a retidão, a prática da caridade! São os sinais da correspondência ao amor de Deus.
Para dar estes passos, algumas propostas em vista da vivência do Advento. Primeiro a consciência da iniciativa gratuita de Deus, superando a tentação da autossuficiência, na certeza que precisamos de Deus, e que não é possível a salvação fora de Jesus Cristo. Proclamamos corajosamente a profunda necessidade de Jesus Cristo para a humanidade, pelo que clamamos “Vem, Senhor Jesus”, sabendo que ele vem, veio e virá! Em nossa vida cristã cotidiana, o Advento faz desenvolver a virtude da esperança, como busca humilde e sincera de Deus, abertura à sua Palavra, suas promessas e as graças com que continuamente nos regala.
O Advento nos convida também à vigilância e aos passos de superação do pecado e da maldade, para respondermos à vocação de ser santos e imaculados a seus olhos, no amor (Cf. Ef 1, 4) e nos identificarmos com Cristo, de acordo com a exortação do Apóstolo: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não atendais aos desejos e paixões da vida carnal” (Rm 13, 14). Isso se traduz em intensa vida de oração, como abertura ao diálogo com Deus e o seguimento do caminho da conversão, como mudança de mentalidade, na confiança total no amor de Deus. E a perspectiva da última vinda do Senhor, presente na liturgia do Advento, pode ativar em nós a certeza de que não se vive mais de uma vez, suscitando a responsabilidade pelo uso dos talentos que nos foram dados por Deus, enquanto temos o presente do tempo!
Enfim, o Advento nos oferece a Virgem Maria, como modelo das atitudes com as quais queremos viver como cristãos, no dia de hoje e na perspectiva da eternidade, pois “na celebração do ciclo anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com especial amor, porque indissoluvelmente unida à obra de salvação do seu Filho, a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, em quem vê e exalta o mais excelso fruto da Redenção, em quem contempla, qual imagem puríssima, o que ela, toda ela, com alegria deseja e espera ser” (Sacrosanctum Concilium, 103).