“O convite a ‘ir e ver’, que acompanha os primeiros e comovedores encontros de Jesus com os discípulos, é também o método de toda a comunicação humana autêntica. Para poder contar a verdade da vida que se faz história, é necessário sair da cômoda presunção do ‘já sabido’ e mover-se, ir ver, estar com as pessoas, ouvi-las, recolher as sugestões da realidade, que nunca deixará de nos surpreender em algum dos seus aspectos. ‘Abre, maravilhado, os olhos ao que vires e deixa as tuas mãos se encherem com o vigor da seiva, de tal modo que os outros possam, ao ler-te, tocar com as mãos o milagre palpitante da vida’, aconselhava o Beato Manuel Lozano Garrido aos seus colegas jornalistas. Por isso, este ano, desejo dedicar a Mensagem ao chamado a ‘ir e ver’, como sugestão para toda a expressão comunicativa que queira ser transparente e honesta: tanto na redação dum jornal como no mundo da web, tanto na pregação comum da Igreja como na comunicação política ou social. ‘Vem e vê’ foi o modo como a fé cristã se comunicou a partir dos primeiros encontros nas margens do rio Jordão e do lago da Galileia”. Assim iniciou o Papa a sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, a ser comemorado no Dia da Ascensão do Senhor, neste próximo domingo. Depois que o Senhor subiu ao Céu, recomendando aos discípulos a oração pela vinda do Espírito Consolador, começou o tempo da comunicação da Boa Nova do Evangelho, até o fim dos tempos, chegando aos confins da terra, até que Deus seja tudo em todos! (Cf. 1 Cor 15,22-28) Este é o Tempo da Comunicação!
Nestes dias comemoramos os vinte e cinco anos da Rádio Nazaré FM (Dia 4 de maio) e dezenove anos da TV Nazaré (Dia 11 de maio). Nosso jornal Voz de Nazaré é mais do que centenário – em julho completa 108 anos – e estamos renovando nosso portal na Internet, que em outubro completa 10 anos, para continuar o projeto de evangelização através dos meios de Comunicação Social. Ao celebrarmos os seis anos da partida de Dom Vicente Joaquim Zico para junto de Deus, no último dia 4 de maio, justamente no aniversário da Rádio Nazaré FM, em sua pessoa recordamos tanta gente que colaborou de todas as formas para construir esta maravilhosa história, com o privilégio alcançado da graça de Deus de ter em nossa Igreja de Belém tantas possibilidades de Comunicação. Certamente Dom Vicente levou para o Céu, além do amor de caridade vivido com intensidade nesta terra, também todas as vozes com as quais nossa Igreja evangeliza, a partir de sua ousadia em empreender as iniciativas cujos frutos hoje colhemos.
Entretanto, a Comunicação do Evangelho tem seu ponto de partida no testemunho dos valores que dele nascem. Desejamos reconhecer a importância e a simplicidade de muitos irmãos e irmãs silenciosos, discretos e ao mesmo tempo eficazes na transmissão da fé. Temos a certeza de que muitos de nós terão histórias para contar dos exemplos recebidos de familiares, parentes e amigos, gente que percorre as estradas da existência numa estrita fidelidade a Deus e à Igreja, cuja luz só resplandecerá em todo o seu fulgor na eternidade! É hora de abrir os olhos para ir e ver, às vezes bem perto de nós, homens e mulheres justos e santos, comunicadores genuínos das coisas de Deus!
Se “Vem e vê foi o modo como a fé cristã se comunicou a partir dos primeiros encontros nas margens do rio Jordão e do lago da Galileia”, como afirma o Papa, desejamos reportar-nos às pessoas que evangelizam nos encontros diários, quando proclamam aos outros o amor de Deus. Os diálogos simples e fecundos, a pastoral da visitação e da acolhida, as visitas com imagens de Nossa Senhora, as pessoas que vão aos hospitais para confortar os enfermos, as missões de porta em porta! É tempo de valorizar o apostolado feito de pessoa a pessoa pela Legião de Maria ou outros grupos. O Evangelho se multiplica e chega ao coração das pessoas. E quantas pessoas o fazem com a certeza de que “Maria passa na frente”, contando com a companhia daquela que é a Estrela da Evangelização.
E que dizer da comunicação realizada pelos sacerdotes e diáconos no ministério da pregação? Preciosa presença, seriedade e competência, a que se acrescentam as inúmeras celebrações da Palavra de Deus em nossas Comunidades, nas quais esta palavra é destilada com amor e unção, servindo ao Povo de Deus! E o horizonte se abre para a leitura orante – lectio divina – da Palavra de Deus, que pouco a pouco se difunde em meio ao nosso povo. Não têm menos valor, antes são imprescindíveis, os muitos grupos de oração, nos quais a Palavra de Deus vem a ser aprofundada e rezada, para conduzir à vida!
A esta altura, podemos ainda valorizar uma instituição que se espalhou pelas nossas Paróquias e Comunidades, nascida a partir da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré do Desterro, as “Guardas”, que têm sido um significativo instrumento da pastoral da acolhida. Temos visto, inclusive nestes tempos de restrição do número de fiéis presentes em nossas celebrações, pelas normas sanitárias vigentes, o modo atento com que guardas, homens, mulheres, jovens e crianças, conduzem as pessoas que chegam para as celebrações, como a dizer “Venha e veja”, “Entre em nossa casa que é a Igreja”.
Podemos ampliar nosso reconhecimento à Pastoral da Comunicação – PASCOM –, com a qual a maioria de nossas Paróquias provocou positivamente os fiéis a entrarem em nossos templos, mesmo de longe, através das redes sociais. Há que reconhecer o esforço, e a maioria é de jovens, de quem fez as Paróquias entrarem nas Igrejas domésticas, que são nossas famílias.
E chegamos aos profissionais da Comunicação de nossa Fundação Nazaré de Comunicação, que gastam as solas dos sapatos, trazendo para o positivo a constatação do Papa, “encontrando pessoas para procurar histórias e verificar com os próprios olhos as situações, abrindo-se ao encontro, pois não o fizerem permanecem espectadores externos, apesar das inovações tecnológicas com a capacidade que têm de nos apresentar uma realidade engrandecida onde nos parece estar imersos. Todo o instrumento só é útil e válido, se nos impele a ir e ver coisas que não chegaríamos a saber, se coloca em rede conhecimentos que de não circulariam, se suscita encontros que não teriam lugar” (Cf. Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações 2021).
Enfim, sugerimos aos profissionais da grande mídia a leitura e o conhecimento da preciosa mensagem do Papa, pois sabemos do idealismo de tantos homens e mulheres que se dedicam seriamente a esta tarefa da comunicação. A eles e elas, oferecemos uma pérola constante do que disse o Papa: “Na comunicação, nada pode jamais substituir, de todo, o ver pessoalmente. Algumas coisas só se podem aprender, experimentando-as. Na verdade, não se comunica só com as palavras, mas também com os olhos, o tom da voz, os gestos. O intenso fascínio de Jesus sobre quem o encontrava dependia da verdade da sua pregação, mas a eficácia daquilo que dizia era inseparável do seu olhar, das suas atitudes e até dos seus silêncios. Os discípulos não só ouviam as suas palavras, mas viam-no falar. Com efeito, nele – Verbo encarnado – a Palavra ganhou Rosto, o Deus invisível deixou-se ver, ouvir e tocar, como escreve o próprio João (cf. 1 Jo 1, 1-3). A palavra só é eficaz, se se ‘vê’, se te envolve numa experiência, num diálogo. Por esta razão, o ‘vem e vê’ era e continua a ser essencial”.
Nossa Igreja possa viver de tal modo que diga, com gestos e palavras, a tantas pessoas, especialmente as mais distantes ou afastadas: Venham e vejam! E se encontrem com o Senhor!